Ontem, véspera do 7 de setembro, o Bê, aos 5 anos, soube me explicar, com seu olhar simples sobre a vida, o que é este país em que moramos.
Ele já conhece todas as letras e está aprendendo a juntá-las, conhece algumas sílabas, no entanto gosta mesmo é de soletrar. Aliás, anda soletrando TODAS as placas que vê pelo caminho. Em tempos de eleições, imagina o que é, né?
Foi assim que ontem, quando saímos da casa da minha mãe, ele disse: "Eu sei como escreve futebol!
é B-R-A-S-I-L!"
E sabem por que? Por que este ano teve copa, e com isso muitas ruas enfeitadas, pintadas, com a palavras BRASIL em letras garrafais, escrita com paixão por brasileiros que perdem horas, dias, semanas até, pintando ruas e muros. Eu não sou fã das datas militares. Hoje é 7 de setembro, o equivalente a esta data nos EUA seria o 4 de julho, que eu, mesmo nunca tendo pisado em terras de tio Sam, sei que é fortemente comemorado por lá. E aqui? Aliás, o que teríamos para comemorar? Quando foi mesmo que nos tornamos independentes, hein?
Eu me envergonho de dizer que moro no país do futebol. Acho tão triste quando ouço isso dito com orgulho... Isso não deveria ser motivo de orgulho de uma nação, devia?
Ser o país do Carnaval, das mulheres nuas, mulheres frutas e desfrutáveis, país da corrupção. Um país que se orgulha de ter as eleições mais modernas e democráticas, por usar uma tecnologia avançada como as urnas eletrônicas, só que esqueceram-se do principal. As urnas não tem recheio, ou melhor, o recheio é podre. De que adianta tanta tecnologia? Por que não crescemos nos lugares certos?
Eu aplaudo a iniciativa da
Lucia em mostrar o Brasil que ela ama. Muitas das coisas que ela destaca eu também amo. O que quero levantar aqui é por que temos que nos orgulhar de coisas que não são dignas de orgulho, simplesmente por que não trazem dignidade ao nosso povo?
Ontem ouvi do Bê uma das mais tristes verdades sobre meu país. Este povo que só se une, bate no peito, veste a camisa, para torcer por futebol. Nesta hora sabemos ser brasileiros. O técnico pode não ser o melhor, o time não inspira confiança, o craque abaixa para ajeitar meião na hora do gol, e tantas outras histórias que temos para relatar e provam que nosso futebol, nem sempre, é ouro. Ainda assim estamos lá, firmes e fortes, de verde e amarelo. Por que não nas eleições? Será mesmo que TODOS os candidatos são ruins? Será mesmo que não há NINGUÉM que preste? Ninguém comprometido? Eu duvido. Procurando, procurando muuuuito bem, alguém deve ter boas intenções, pode ser interessado, honesto...
Eu quero acreditar... Quero acreditar que não está tudo perdido, que nossa única opção não é mudarmo-nos todos para Pasárgada. Aliás, a verdadeira Pasárgada é tão parecida com o Brasil... tirando a parte de sermos nós os amigos do Rei...
A ideia era de um texto curto, apenas relatando uma gracinha do Bê que me levou a profunda reflexão. O que estamos ensinando, sem perceber, aos nossos pequenos? Que tipo de valor estamos demonstrando ao nosso país? Tudo isso será reproduzido, mais tarde, pelas crianças que um dia serão os advogados, juízes, engenheiros, empresários, deputados, senadores, professores, presidentes...
Será que tudo que nos resta é balançarmos bandeiras e gritarmos Brasil quando a seleção entrar em campo? E o que é mesmo a seleção brasileira? Meninos, em sua maioria pobres, de periferia, sem estudo. Muitos fugiam das aulas para jogar futebol em algum campinho de várzea, descalços por falta de sapatos, magros por falta de comida, mal alimentados, mal formados. Descobertos por um olheiro, vendidos - como escravos de alto luxo - por preços exorbitantes, a times extrangeiros. Não é que são eles que verdadeiramente nos representam?
Vão servir de macaquinhos de circo, de bobos da corte, para cortes mais ricas. Vivem vidas milionárias, muitas vezes perdem tudo por falta de estrutura, boa parte tornam-se viciados, alcóolatras. Lotam-se de filhos por que não sabem sequer fazer uso de camisinhas. Até que chega a copa, e são escalados para nos representar. Copa é a data mais esperada por muitos brasileiros. O Brasil pára. Absurdo uma empresa dizer que vai funcionar neste dia, funcionários se revoltam! Churrascos e muita bebida, gritos, vuvuzelas, fogos. Todo tipo de demonstração esdrúxula de amor à nação.
Íh... amarguei... Não era essa a intenção... Vou parar por aqui. Me diz aí, você... Como se escreve democracia? E o que representa este tal 7 de setembro? É só um feriado a mais para viajarmos com a família?
Um beijo a todos,
Tati.