Por que há questões que são melhor respondidas com novas indagações!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Quem eu quis

Esta é minha participação na blogagem coletiva proposta pela Glorinha, do Café com bolo, Emoções e Sentimentos. 

Prato do dia:  Inveja. 


No meu tempo de pequena as coisas não eram como hoje. Brinquedos eram presentes no dia das crianças e no Natal. No dia das crianças, uma lembrancinha, no Natal, o melhor presente de todos! No aniversário não tinha presente dos pais, tinha uma festa, que também não era como as festas de hoje. Era um bolo com a família e amigos mais chegados, na própria casa ou apartamento. E era ótimo! 

De todos os brinquedos que ganhei nenhum foi mais especial que a Quem me quer. Nem mesmo a bicicleta cecizinha azul, linda e com cestinha foi mais querida que a Quem me quer. Aquela foi a boneca dos meus desejos! E foi um presente de Natal. 

De modo geral minha mãe, que adora criar clima de magia, escondia os presentes, mas eu sempre achava, mesmo que sem querer. É que curiosidade é talvez o traço mais marcante de minha personalidade. Achei a bicicleta no quartinho de empregada e até a coleção das Moranguinhos embaixo de poltronas e sofás...

Desta vez, não sei explicar por que (perguntem a ela), nós escolhemos a boneca. Lembro da vitrine, com vários modelos : roupas e cabelos diferentes, uma imensidão de cores. Tinha também menino Quem me quer. Lembro do comercial na televisão, com a música e os diversos modelos sendo apresentados. Cada uma mais linda que a outra. Era uma loja grande, ou eu que era pequena? E as bonecas todas ali, iluminadas, de braços abertos, com aquela carinha encantadora. Se fosse nos dias de hoje, faríamos a coleção da Quem me quer. Naquele tempo, não! Tinha que escolher uma. 

 Eu me apaixonei pela que tinha cabelos rosa, rabo de cavalo e uma camisola verde água. Ah, eu amava verde água, achava a cor mais linda de todas as cores... Só que ... eu tenho uma irmã mais nova. Nesta época, tudo o que eu queria era o que ela queria. E eu odiava isso! Acho que até hoje sou assim, gosto do que ninguém gosta, do que é diferente, por causa disso. Sempre gostei de me diferenciar. Pronto! Estava armada a confusão. Dentre tantos modelos de Quem me quer minha irmã queria a que eu escolhi! Ai, que raiva!!!

Bati pé, reclamei, ela fez beicinho, chorou... Minha irmã sempre soube conduzir melhor as coisas. Eu endurecia, ela adocicava. Eu ficava irritada, ela, chorosa. Daí vinha aquela conversa antiga e atual, de que eu era a mais velha, que já era uma mocinha, que sabia entender e tal... Tá, tá bem... Escolho outra! Mas aí ela não pode trocar!!!

Olhei, olhei. Um tanto decepcionada. Até que aquela linda boneca, com cabelos acastanhados, vestidinho azul com avental e cabelos em maria chiquinha conseguiu me convencer de que era a boneca ideal para mim. Me rendi a seu charme.

Ah, que boneca querida! Como queria uma dessas de novo em meus braços... Que fim levou minha boneca tão amada? Não me lembro... Lembro que brincávamos muito com elas, que eram nossas filhinhas fofas, e mesmo com a paixão pela minha, sempre olhei de soslaio para a da minha irmã...Até que, bonecas gastas, cansadas, muito brincadas... perderam suas presilhas de cabelo.

As maria-chiquinhas desfeitas da minha boneca renderam-lhe uma cabeleira cheia, vasta, bela. A de minha irmã, ao perder seu rabo de cavalo, desnudou uma ampla calvície, estilo coroa de padre, e um cabelo ralo e irregular, que ficava muito comprido na parte de baixo e mais curto em cima, nada parecido com um cabelo em camadas, diga-se de passagem. Uma coisa horrível!

E se naquela hora, algum olhar atento se virasse em minha direção, veria uma menina disfarçando um quase sorriso vitorioso, preso no canto da boca...

Beijos a todos,
Tati.


34 comentários:

Unknown disse...

Que bela história. Levar-nos à sua infância com as bonecas. Gostei muito daquela de cabelos rosa.

Beijo.

Cris França disse...

ai Tati so vc mesmo...rs sabe que minha vizinha tinha essa boneca, eu não é claro, porque meu pai tinha se separado e enfim...rs era uma fase miserável mesmo...rs, mas olha, eu lembro de um natal que o meu pai coitado, que sempre trabalhou por conta, tava apertado e fez assim , comprou uma boneca Susi, e disse, para dividir entre eu e minha irmã, para brincarmos juntas ( a Susi era a Barbie de antigamente), sei dizer, que eu fui pra casa vendo a boneca da minha irmã e cai de cama, sem dizer um a...mas com uma febre de quase 40 graus, que só sarou, porque meu pai comprou uma boneca Susi patinadora para mim, com um dineiro que conseguiu emprestado, vc acha? e minha mãe conta que quando pequena eu tinha muito disso, de ter febre , chamavam de lumbriga...rsssss
sabe que é uma das coisas que eu mais tive medo que Julia tivesse, graças a Deus ela é tão desencanada com isso...rs bjs querida e parabéns por dividir com a gente essa coisa gostosa, adoro ler postagens assim, ela nos levam de volta no tempo. bjs no coração

Astrid Annabelle disse...

Olá Tati!
É bom lembrar das nossas coisas de criança. As pessoas não acreditam que eu cresci sem ter esse tipo de sentimento em casa. Fui encarar a inveja depois de me casar, começando pelo dia do casamento...
Hoje tenho uma outra consciência a respeito disso tudo!
Adorei seu post e o seu texto...como sempre muito bem escrito!
Um beijo gostoso para um bom dia!
Astrid Ananbelle

Taia Assunção disse...

Você é ótima, adoro o modo como escreve. Cresci sozinha, porque minhas manas têm sete e oito anos de diferença de idade com relação a minha. Quando mocinha, eu adorava vestir as roupas da minha mana mais velha que era e continua sendo bastante vaidosa e bonita. Quando ela saía eu me deliciava usando seus saltos e batons...rsrsrs. Já brigamos muito por causa disso, o engraçado é que depois de adulta eu fui a que obtive maior maturidade emocional e financeira e Claricinha, minha mana querida age hoje como se fosse mais menina que eu. Inversão de papéis. Beijocas!

Lis. disse...

É Tati, tateando, tateando, encontraste aquele começo de principio. Está bem desenvolvido seu texto, e mostrá-nos que as vezes certas coisas são bem circunstanciais. Há de se ver como nós reagimos diante de algo inesperado, e que trás aquela bandida sensação de perda. Cumprimentos.

Lis.

Lu Souza Brito disse...

Ahahahhaha, ai Tati. Coisas de criança. Feliz com a boneca careca da irmã, kkkkkkkkk.

Nilce disse...

Oi, Tati

É claro que vc pode, e sabe disso, discodar e deve. É assim que gosto das coisas.

Que saudades da infância...
Como já queríamos as coisas das outras crianças. O que diferencia das de hoje é que não tínhamos traumas, não ficamos com eles.
Agora o seu "...disfarçado sorriso vitorioso, preso no canto da boca..." pela boneca descabelada, foi o máximo.
Muito bom, querida!

Bjs no coração!

Nilce

Mari disse...

Ai tati,

Que delíca ler seu post.
Nossa parece que via eu e minha irmã...eu sou a mais nova rsrs..chorona,etc...bem parecida com a sua irmã rs
Saudade da infância!
Delícia de postagem! A gente até esquece da inveja!
Beijos

Bordados e Retalhos disse...

Tati vc contou tão bem essa história, mas tão bem... que chegou no final eu queria saber mais. Rsrsrs. Acho que a inveja foi muito bem ilustrada com a história da irmã que deseja o que a outra tem, inclusive a atenção dos pais. Mas o que mais me impressionou foi vc encontrar as ilustrações para cada parte da história. A boneca de vestido verde água, a de vestido azul, a de cabelos bagunçados. Perfeito! Lindo. Ficou leve ler sobre um sentimento tãopobre. Bjs

Isadora disse...

Minha amiga sentimos inveja. Embora a constatação não nos agrade é a mais pura verdade.
Nos controlamos é certo e tentamos a todo custo evitar esse sentimento, classificado ruim, mas ao longo da vida o sentimos novamente.
No final a boneca que você queria, depois de muito usada se mostrou menos bela, e o sorriso pensando: ainda bem que eu escolhi outra, agora ela que fique com essa horrorosa - rs.
Quando crianças, o sentimento embora combatido é mais aceito, já adultos concientes do mau que podemos causar a alguém com esse sentimento, nos policiamos e o queremos longe de nós.
Um beijinho

chica disse...

Adorei essa história.Um amor e valeu uma linda participação na blogagem da Glorinha!beijos,chica

Misturação - Ana Karla disse...

Nossa Tati, que inveja!
Mas sei bem o que é isso,,, minha irmã coitada, mais velha do que eu, penou viu?
Ela tinha uma boneca que se chamava Ternurinha e eu risquei a boneca todinha.
Que inveja, viu?!!!

Ainda bem que passou! rs

|Xeros

Glorinha L de Lion disse...

Ai Tati, adorei sua estória, minha filha tb teve a Bem me Quer...era tão fofa essa boneca! e gostei do seu olhar de soslaio pra boneca da irmã e do teu sorrisinho disfarçado quando viu que a dela era careca...kkkkk...e não é isso que a gente faz até hj? Difícil é neguinho admitir...eu admito, um prazerzinho secreto ...hehe bjs.

Paula Betzold disse...

Tati, essa do humor saltar nas palavras nunca nem vc nem ninguem tinha me dito. Mas eu sou assim sempre! Não só nas palavras... qud to bem irradio isso, quando não to também. Minha voz, meu olhar, até meu cabelo variam conforme meu humor. Mas, ando mais felizinha mesmo esses dias... com a sensação de estar fazendo tudo certo.E ai minha cabeça ficando ocupada, quase não tenho tempo de me lamentar. Isso é fundamental.
Quanto ao seu post, sei bem como a sua irmã se sentia, pois eu também sempre queria as coisas iguais as da minha. Só que aqui em casa a vontade dela sempre prevalece (é... ate hj!) então, eu sei bem como era seu sorrisinho de canto de boca! Só que aqui isso era mais dificil, a marcela sempre foi mais cuidadosa que eu. =(
Quanto ao dia 21, to tentando me organizar sim, mas so consigo responder mais perto! beijos!

Indira disse...

Rs rs rs ..
Nossa Tati..
Eu era a caçula só que ao contrario das dusa eu era a pavio curto, minha irmã fazia o estilo intelectual certinha, com isso nao preciso nem dizer quem obtinha mais vantagens ne?
rss
Tivemos um caso bem parecido com bonecas, mas nao sei se vcs lembram era "Lu patinadora"e "Lu esquiadora"..

Eliane disse...

Tati só posso Sorrir diante de sua historia. Um beijo e obrigado por sua visita.

Dri Andrade disse...

ahhh ser criança é uma delicia,tenho boas lembranças do meu tempo e das ''bonecas'' que eu ganhava.Obrigada pela visita e pelo carinho, tbm amei seu blog e já estou seguindo,beijocas e bom fds.

Eduardo Medeiros disse...

Que bonitinha...rssssssss

Minha irmã, que hoje é esteticista, quando criança brincava de salão com as bonecas. Cortava o cabelo, pintava as unhas, passava baton...rssss Não deu outra, virou esteticista!!

beijos

Macá disse...

Tati
Parece que estou vendo o sorrisinho vitorioso, tentando ser disfarçado! Muito legal a sua história e a forma como contou. Genial.
Um beijo

She disse...

Tatiiiii adorei seu post, mas as fotinhos dessa bonequinha, menina, me fizeram viajar bonito no túnel do tempo... hehehe Beijo, beijo! ;)

lynce disse...

Olá Tati!
Antes de mais, quero que saibas que já parei de olhar p`ra ela. Aqui já é noite e, como deves calcular, salvo raras excepções, já não está ninguém na praia.
Por fim dizer-te que, quando era criança, também brinquei com esse tipo de bonecas. Os meus pais até pensaram que eu mais tarde viessa "a pegar de empurrão", mas afinal não, desde muito novo sempre adorei mulheres. Portanto, foi só um falso alarme.
Beijinhos e, bom fim de semana!
:)))

Lúcia Soares disse...

Tati, é sério, mas tive que rir!
Imaginei direitinho a carinha da menina, vitoriosa, pois a boneca da irmã ficou mais feinha! rsrsr
Inveja é assim, corrói o coraçãozinho até de uma criança. Mas não sei se foi inveja, não! Você desejou mal à sua irmã? Desejou que a boneca dela se "descabelasse", sumisse, sujasse?
Não sigo a linha de que todos temos inveja. Contento-me com o que tenho, desde pequena fui aprendendo que tinha muito pouco, mas isso não era ruim, porque amava tanto a minha família que só o que me importava era tê-los perto de mim. Nada material me emociona muito.
Passar numa rua, ver um prédio bonito e querer morar ali significa que "invejo" quem mora lá? Claro que não!
Invejar é basicamente desejar o que outra pessoa tem e não querer que ela tenha mais.
Isso é inimaginável pra mim.
Beijo e bom fim de semana.

(Ando sem visitar muitos blogs e agradeço você estar sempre no meu, comentando e me apoiando. Você me é muito querida. Bj)

Marly disse...

Oi, Tati,
Gostei do texto! E não é que, realmente, as coisas mudaram muito, no que se refere aos presentes que as crianças de hoje recebem?
Mas eu me pergunto se isso é realmente bom ou ruim. Só o tempo dirá, não é mesmo? Uma coisa que já dá para ver é que nós sentíamos mais alegrias com o nosso único (e tão esperado!) presente.
O final do texto me fez rir, por causa do desfecho didático, e porque me fez recordar das cabeças carecas daquelas bonecas, rsrs.

Beijão

Françoise disse...

Ehhhhh, como sempre eu aqui me deliciando com seus textos. Me senti pequena novamente com a minha quem me quer da qual tanto brinquei. Minha irmã e eu temos apenas 11 meses de diferença e me lembrei agora do quanto desejei seus brinquedos mesmo quando tinha a liberdade de escolher os meus....., achava que os dela eram sempre melhores que o meu, ave!!!!!!!

Beijos com saudades docê!

Beth/Lilás disse...

Oi, Tatiiii!
Que legal o seu texto, altas lembranças de bonecas da minha infância eu tive!
Ah eu acho que a menininha teve inveja sim, este sentimento que está dentro de nós desde a tenra idade, mas ela não sabia o que era isso, não usou disso para fazer o mal a alguém, mas isso é inveja, não tem outro nome para mim.
beijinhos cariocas

Socorro Melo disse...

Oi, Tati!

Bonequinhas lindas.Fiquei imaginando o final da história, os cabelos despenteados das bonequinhas, e a carinha de satisfação de uma menininha, hehehe
Nesse caso nem sei se seria inveja, pois, criança é tão inocente, né?
Mas, que fique para todos nós a lição dessa blogagem, lançando luzes em nossas mentes, para não cairmos na esparrela desse sentimento vil.

Um grande abraço
Socorro Melo

diariodumapsi disse...

Perfeito este conto. O final tem a maestria dos grandes escritores, o sorriso no canto da boca ao ver o estado da boneca da irmã. Ah Tati, como é bom conhecer gente de verdade!
Bom final de semana
gd beijo

orvalho do ceu disse...

Olá,
A VERDADE nos liberta...
Tenhamos ótimo dia e reflexão com essa sugestão da Glorinha!
Abraços fraternais e serenidade para discernir...

* Edméia * disse...

*Tatiiiiiiiiiiii !!! *

*Bom dia !!!

*Vim aqui para conhecer este teu espaço e

TE AGRADECER pela tua visita e pelo teu

comentário lá no meu amado *Caderninho !!!

*Fiquei CONTENTE !!! *Muito obrigada !!!

*Tati, fiques com Deus e tenhas um

ALEGRE e TRANQUÍLO final de semana na

companhia dos teus !!!

*Um abraço.

Luma Rosa disse...

Sua história de infância virou uma bela crônica com desfecho supimpa!! E eu sorri aqui com seu sorriso disfarçado! Mas... me coloquei no lugar da irmã caçula e, tadinha da minha irmã!! Como fui má! (rs*) Bom fim de semana! Beijus,

Anônimo disse...

Tati,
História pra lá de interessante! Mas no meu pensar, não foi inveja e sim cobiça e no final uma vingançazinha... É que para mim, ficou claro que vc queria a boneca. E, na inveja a pessoa sofre com o bem estar do outro, mas não deseja aquilo para si.

Agora, essa sua história, menina! Está muito bem contada, uma narrativa esplendorosa, leve, transparente. Adorei e, ao final queria continuar, rsrs. Vc escreve muiiiito bem! Sou sua fã, vc sabe, ne?
Bjssssssssss

Manuela Freitas disse...

Olá querida Tati,
Ando a pôr a escrita em dia, porque estive ausente. Gostei muito da tua história deliciosa da infância. Entre irmãos sempre há por uma razão ou por outra uma certa inveja, uma inveja inocente. Pior realmente são as grandes invejas.
Beijinhos,
Manú

Mimirabolante disse...

É ...... a inveja mata!!!!!

Cristina Ramalho disse...

Oi Tati, eu tbém tive uma boneca maravilhosa dessas!! Lindas né... A minha era a de cabelo rosa e roupinha verde agua que vc deixou para sua irmã...rs.. Mas eu nem escolhi, meu pai comprou e me presentiou, foi a última boneca de ganhei, mas marcou para sempre.... bjo.