Oi pessoal,
Hoje vou passar bem rapidinho, o dia está cheio-cheio, mas eu queria contar uma coisa que aconteceu ontem, enquanto eu ía para o trabalho.
Quando eu ainda não tinha atravessado a rua, vi o ônibus que eu pego. Ele estava no ponto e eu atravessei parando os carros, assoviando, plantando bananeira e assim o motorista me esperou. Que gentileza! Foi a gentileza nº 1. Entrei e seguimos, via Linha amarela. Ônibus cheio (isso é pleonasmo?). Fui em pé o caminho todo, isso é o normal mesmo, pelo menos ontem o inspira-expira estava garantido(meu meio-metro quadrado era só meu) e uma pessoa gentil segurou minha bolsa!
Então, passamos o pedágio e... paramos. O ônibus, de vez em quando, para ali por causa de fiscal ou sei lá. Nisso, um rapaz que estava em pé lá atrás, perto da porta grita: "motorista, abre aí, é rapidinho". Eu entendi que ele iria descer ali, que trabalhava no pedágio, sei lá. Mas não. Ele desceu e o motorista ficou esperando. Sim!!! Esperando!!! Isso aconteceu de verdade, ontem!
Eu não sei se o rapaz estava apertado para ir ao banheiro, se viu alguém que devia dinheiro para ele, se a namorada trabalha no pedágio e ele quis dar um beijo rápido, de surpresa. Sei lá. Isso ele não contou prá gente. Ele só desceu, seguiu correndo para um lugar que não dava para ver. Claro que eu tentei ver, eu e os muitos passageiros do ônibus, afinal, o que de melhor nós tinhamos para ver?
Uma parte dos passageiros revoltou-se, queria que o motorista seguisse. O rapaz demorou um bom tanto (se era banheiro, digamos que foi o nº 2, ok?), nisso o motorista pensou em arrancar. Um rapaz que, sortudo, estava sentado lá atrás gritou. "Espera motorista, ele deixou a mochila aqui". Enfim, não podíamos partir com a mochila do angustiado passageiro. O motorista então andou mais para a frente, sei lá por que, acho que para dar uma lição do moço: "ai, ai, ai, não faça mais isso, hein?".
Ficamos a bem dizer uns 20 minutos nesta brincadeira. Eu estava atrasada para uma reunião no trabalho. Não estaria se tivesse saído mais cedo, certo?
Mas quando ía ficar irritada com o comportamento do motorista comecei a pensar (o que me restava naquela situação?). Tudo bem, atrasamos muitos por causa de um, mas não foi um gesto grandioso, generoso, o do motorista? E se fosse eu precisando resolver uma causa urgente assim, não gostaria que me esperassem? Quando estamos de carro o motorista nos espera, somos pacientes com alguém que precisa "dar uma paradinha ali para... what ever... ". Por que não nos coletivos? Isso também não é pensar no outro? Na coletividade? Por que, só pelo fato de sermos levados como caminhão de batatas, não podemos ser também indivíduos?
No final das contas senti que era mais interessante aplaudir o motorista do que criticá-lo. Ele foi humano, na função de um profissional que costuma brutalizar-se. E não foi sobre o oposto que já falei outro dia aqui? Então ele retornou ao ônibus, e acho que minha vontade de aplaudir o motorista contagiou os demais passageiros-pacientes, e eles aplaudiram e bradaram, mas, opa! Não o motorista, e sim o aliviado passageiro que retornava aos braços de sua amada mochila, aquela que o salvou de ser abandonado fora do ponto!
É isso, não me estenderei em análises dos fatos por que preciso seguir para a batalha diária. Para hoje temos muuuuuitos dragões. Prometo encontrar um moleskine, assim as grandes histórias não se perderão nos caminhos da vida.
Beijos,
Tati.