Por que há questões que são melhor respondidas com novas indagações!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Para além dos destinos da anatomia: as novas singularidades contemporâneas

Ola´amigos, escrevi este texto como reflexão depois do estudo do livro"Deslocamento do Feminino" de Maria Rita khel. Faz bastante tempo que o escrevi, mas gostaria de saber a opinião de vocês. Peço desculpas por ainda não ter conseguido responder aos comentários e retribuir as várias visitas. Ainda estou me familiarizando com esta nova ferramenta e ainda tenho que dividir o computador com filho de férias, marido e periquito... este último é real tá gente, ele se chama chiquinho e gosta de brincar comigo justamente quando estou no computador. No meu primeiro texto tem uma foto dele comigo. hahaha

Uma grande amiga,mãe de dois filhos, casada, bancária me mandou um convite para participar de uma comunidade que ela criou no orkut "Nasci pra ser mãe não para ficar em casa". Ela deixou o emprego após o nascimento do segundo filho, porque queria estar mais perto deles. Diz estar feliz, mas sente falta de sua vida profissional e há momentos em que se pergunta se fez a escolha certa.
Este é um dilema enfrentado por muitas mulheres que inicialmente escolheram seguir uma carreira profissional e deixar em segundo plano a dedicação ao lar e a família, mas com o nascimento dos filhos precisaram rever tal decisão. O nascimento do filho, para a grande maioria das mulheres é algo arrebatador, pois muda muito a vida, a rotina e as responsabilidades.
Ouvi uma outra amiga, que não quer ter filhos, dizer que prefere uma vida radical, cheia de riscos e aventuras. Nada contra, acredito que a maternidade precisa ser uma opção. Mas na minha opinião não há risco ou aventura maior do que ter um filho. É como se um pedaço de você estivesse por aí correndo e você quisesse o tempo todo saber onde está.
Essa é uma questão contemporânea, de mulheres que lutaram por seus direitos. Sabemos que há algum tempo atrás os papéis de homens e mulheres eram bem definidos. Mulheres cuidavam da família em casa e o homem sustentava financeiramente o lar e dava as ordens. E hoje? Depende. A mulher pode ou não trabalhar fora, o marido também, e nem sempre quem sustenta é quem manda. As relações de poder mudaram, convivemos hoje com essa grande conquista nas relações de gênero, mas ela vem acompanhada de outras mudanças.
Com o advento do capitalismo, o mundo globalizado, o crescimento econômico, o privilegiamento das leis do mercado, da competição e do individualismo criou-se também uma noção de liberdade sem limites, onde o indivíduo pode ser tudo que quiser, tudo depende dele. No feudalismo, nascia-se pobre ou rico, era a vontade de Deus e só, não havia a possibilidade de ascensão social. Contudo, tal ideologia também nos trouxe muita insegurança.
Segundo Anzieu, na clínica hoje, mais da metade da clientela psicanalítica é constituída pelo que se chama estados-limite e/ou personalidades narcísicas. Homens e mulheres vivem num nível de exigência grande, de muita insegurança, já que lidam com questões novas para ambos.
E será que estes novos indivíduos, com todas estas novas exigências e desafios tiveram uma "mãe suficientemente boa" ou tiveram a chance de ser rei na fase da "onipotência infantil" como bem definia Winnicott. Será que eles estão preparados para esta luta diária?
Quero dizer com isso que boa parte de nós, apesar de estar na corrida por bons empregos e serem bem sucedidos ainda são muito inseguros em relação a si mesmos. Muitas vezes dizem "que não são nada" ou que "não são capazes de ser amados". É necessário nos debruçarmos sobre o desenvolvimento psíquico, dando condições para que o indivíduo possa se desenvolver e amadurecer, para que homens e mulheres possam usufruir dessas conquistas, reconhecerem seu esforço, lutando pelo que se quer, sabendo quem se é e o que já se conquistou. Pois muitas vezes, apesar de terem algum poder de consumo, as pessoas estão perdidas, correm, competem, se relacionam com o outro precariamente e acreditam que não são nada.
O momento exige que sejamos criativos para encontrar novas formas de estar no mundo para além dos papéis socialmente prescritos. Então como ser um homem ou uma mulher? Sabemos que biologicamente nascemos como tal, mas que há vários fatores para nos tornarmos Homem e Mulher, assim como se tornar mãe. Pois, todas as mulheres, a princípio, podem parir, mas nem todas se tornarão efetivamente mães.
Para viver melhor e enfrentarmos todas estas complexidades é que precisamos nos manter inteiros, nos perdoar, brincar com nossas imperfeições, e principalmenter, ter um contorno (pele, carinho, carícias, afagos, abraços) e um limite(corpo próprio e do outro).

É isso gente, eu mantive alguns termos técnicos, porque não deu pra ser de outra forma, sou péssima em simplificações, tentei fazer isso com outro texto e não deu certo, acabei perdendo a idéia central.
Bjs pra todos e obrigada pelas mensagens,

14 comentários:

Juci Barros disse...

O texto está ótimo! Também acredito na maternidade como escolha, mas por outro lado me incomoda um excesso de planejamento em que vivemos hoje, perdemos aquela vida de fato que escorre entre os dedos, que corre solta; sem tanta teoria. Temos o dom de sermos o que somos, se somos está feito, o melhor que podemos é aproveitar ao máximo.
Beijos.

Desconstruindo a Mãe disse...

Tati, feliz 2011!

Este é meu primeiro comentário do ano e te digo que concordo: não há experiência mais arriscada e radical (=de raiz, mesmo) que ser mãe e pai.

A gente faz viagens constantes ao interior da alma e de experiências que nem costumava lembrar ter vivido. E é confrontada pelos filhos, que derrubam nossas certezas com uma simples pergunta ou gesto de carinho em ocasiões inusitadas...

E maior a aventura pra quem abre o coração pra experiência, assim como em todas as situações da vida, sejam elas provocadas/espontâneas ou que se apresentem dizendo: "surpresa"!

Sempre quis ser mãe e sei que há quem ame crianças e seja feliz curtindo sobrinhos, filhos de primos e amigos com grande dedicação, mas não deseje entrar nessa ou não tenha encontrado uma parceria com quem ache que valha a pena encarar. É apenas uma escolha, que como todas as outras, pode de repente passar a ser repensada. Não há mal algum! Não é mesmo?

Beijos,
Ingrid

Unknown disse...

Alessandra e Tati
que texto ótimo.
excelente.
concordo mesmo que nem todas mulheres são mães, independente de parir ou não os filhos.
hehe
sei bem disso. Vivi esta realidade. E posso dizer com certeza: quem puder ficar com os filhos, educá-los, conviver com eles, faça.
Não tenha medo de ser mãe.
É fantástica e arriscadíssima esta experiência.
A mais absurda possível. Mas também uma das coisas que mais me trouxeram felicidade.
beijos pras duas mamães daí.
tchau

Caca disse...

Para mim o texto não perdeu nada, Alessandra. O que vem perdendo acho, são homens e mulheres. Até um tempo atrás, as mudanças e rupturas mais impactantes nas nossas vidas tinham um apelo mais coletivo. A própria "libertação" da mulher foi assim. Agora, individualizou-se tanto o comportamento humano que fica cada um atirando aonde lhe aponta o nariz e o resultado é um monte de gente com problemas emocionais e insatisfeita. Acho que está chegando a hora das coisas se assentarem e homens e mulheres juntos, irem se redefinindo, se redescobrindo, se reagrupando. Parabéns pela bela abordagem. Abraços. Paz e bem.

Tati disse...

Alê, eu sabia que sua participação no blog só poderia melhorá-lo! Obrigada, amiga! Que texto ótimo. Esta frase da Sandra não é apenas uma comunidade, é também o nome do blog dela, que está meio abandonado por conta do "ser mãe". Também "vivo este dilema lindo"... Adoro quando você fala da mãe suficientemente boa, me lembro a primeira vez que te ouvi falar sobre isso, quando ainda morava no condomínio. Muito bom! Beijos.

Maria Célia disse...

Olá garotas!
Excelente texto, gostei muito.
Também vivi este drama quando minha filha nasceu, abandonei meu emprego para me dedicar a ela. No meu caso não houve arrependimento porque não gostava do meu trabalho, procurei desempenhá-lo o melhor possível, com responsabilidade e seriedade, mais não tinha o menor amor embutido no que eu fazia.
Hoje, depois de 21 anos, às vezes penso se foi minha melhor opção. Poderia ter procurado outro trabalho que me desse maior satisfação, mais não o fiz na época certa, e agora acho que já passou meu tempo.
De qualquer maneira adoro curtir minha casa, minha família, cuidar de tudo. Se a pessoa está feliz e em paz é o que importa.
Beijos.

Lu Souza Brito disse...

Oi Alê,

Eu nem filhos tive ainda mas já me pego neste dilema. Porque não abro mão de ter filhos, mas não gostaria de ser só mãe / dona de casa, educadora. Imagino que por si só já seja uma trabalheira, mas desde os 11 anos que não sei o que é ficar em casa sem trabalho remunerado.
Sou financeiramente indepentente e isso não quero perder JAMAIS. Além disso, no atual momento, a minha renda é de suma importancia para a sobrevivencia da família, ahahahhaah.
Ótimo texto!
um abraço

** Tatiiii, saudades de vc. Vê se aparece também.
Bjos

Nilce disse...

Oi Tati e Alessandra

A quem pode e faz opção por ser apenas mãe, que o saiba ser, pois concordo que não é só parir.
Mas é possível ser mãe, provedora e dona de casa, criando e educando muito bem seus filhos.
Vivi os dois casos e não houve diferença entre estar 24 horas em casa e trabalhar, ser mãe provedora e dona de casa.
Pode até ser um esforço maior, mas a recompensa também o é.
Muito bom este texto.

Bjs no coração!

Nilce

Eduardo Medeiros disse...

oi alessandra, tudo bem? outro dia li um texto teu e respondi como se fosse da tati...kkkk não me dei conta que agora duas cabeças femininas escrevem aqui neste blog que eu tanto gosto de visitar.

sabe, minha esposa está passando por isso agora. tivemos nosso primeiro filho há 21 dias e ela, que é uma profissional "caxias", pega-se perguntando "será que eu volto a trabalhar...?".

por mim ela volta. com o tempo tudo se apruma; por enquanto estamos babando demais este garotinho.

gostei muito do seu jeito de escrever. quando quiser, apareça. abraços

tati, um abraço para você também.

Anônimo disse...

Olá meninas!
Ótimo texto, abordagem sempre oportuna, uma vez que esse dilema é eterno. Concordo que ser mãe não é só parir, "tem que participar". No meu caso, entre o trabalho e a maternidade, sempre optei pelos dois, mas teve uma época que precisei ficar um pouco em casa. Estive um ano somente cuidando meus filhos, botando a vida deles nos eixos, depois voltei ao trabalho remunerado e não parei mais. Não me arrependo, nunca dependi de marido e isso pra mim conta muito, pois considero a independência financeira das mulheres, acima de tudo um direito, uma conquista que suamos para conseguir através dos tempos. Mas embora trabalhar e ganhar nosso próprio sustento seja, como já falei, um direito de todas nós, podemos ou não exercê-lo. Então, não critico quem opta por ficar em casa cuidando sua família. É uma opção legítima. Cada um sabe de si, onde lhe aperta o sapato, como dizemos por esses pagos daqui. Entendo que o importante é ficar mais perto daquilo que nos faz feliz, que nos gratifica como ser humano. O resto, é o resto. Meu netinho mais novo me diz às vezes: ô vó tu TEM MESMO que trabalhar? Não amor, o trabalho é parte da minha vida.
Avemaria, me empolguei, rsrs.
Bjssss

Macá disse...

Alessandra
Realmente você veio para somar. E esse assunto é muito bom.
Eu não passei muito por esse problema. Eu não esperava ter filhos, pque o médico já tinha dito que seria muito difícil, mas qdo engravidei, foi uma alegria só, que eu nem imaginava sentir. Meu marido era radicalmente contra trabalhar o dia inteiro e deixar a criança na escola, mas como trabalhava no BB, fiz a opção de trabalhar somente 6 hs. Então deu muito bem para conciliar Filho e Trabalho.
Mas imagino que não seja fácil quem faz a opção de um ou outro.
beijos pra você e pra minha amiga Tati.

Analice disse...

eu concordo com quase boa parte do texto... porque sao questões da vida atual , do individuo que ainda tem tantas coisas a fazer, pois o modo o coloca nessa posiçaõ que ele acaba nao lidando com o que ja tem;;; como se ajustar, como vivenciar a si mesmo, diante das questões externas, das cobranças... de si mesmo,... eu sofre com essa exigencia desde cedo... coisas que sempre colocava na cabeça nao posso casar e nem ter filhos antes de termina os estudos basicos e conseguir emprego, senao imagina que ia fazer ou passar pelos que os meus parentes passaram... etc.. .sao questoes e necessidades meia compradas.. precisamos desfazer de tantas coisas e cobranças...
enfim, valeu a pena e obrigada pelo espaço de desabafo...

Nanci disse...

Eu não sei o que pensar. esse dilema é a minha vida. não tem como optar com as "opções" que temos. nao existe trabalho com horarios flexiveis, sinto que tudo que estudei e adquiri como experiencia ficou pra trás, me sinto sem atualização. mas não tem como optar por trabalho ou filho. esse dias li um post sobre uma pessoa que deixa seu filho com uma parente e ela ensina o guri a se exibir sexualmente!!! e aí, deixamos os filhos serem criados por sei lá quem ou o dia todo na escolinha? nao me sinto completa, nem sem culpa, mas estou fazendo o que acho ser o certo. amo ficar com a minha filha mas ser uma profissional me faz muita falta. acho que tenho que parar agora, pq vou lavar o rosto antes que o aguaceiro tome conta da minha cara.bjs

Tatiana disse...

Tati? Alessandra? To boiando..rs...isso é que da ficar um tempo fora da blogosfera!!!
Tem parceria no "Perguntas em Resposta"?
Minha querida Tati...que saudades de voce e desse teu cantinho maravilhoso!!!
Esse texto da Alessandra me tocou profundamente, esta otimo.
Sempre trabalhei,depois que os filhos nasceram o ritmo diminui ate eu me mudar para Cancun e parar por completo, nao valia a pena financeiramente e nao queria estar longe deles.
Agora estou na Florida e pensando em voltar a trabalhar,mas com muuuuuita preguica...rs, e incrivel,mas nao me sinto nenhuma madame, ao contrario, nao paro um segundo e adoro essa vida,super conectada com os filhos,a casa,marido...adooooro.
Adorei o texto,vivemos em uma epoca de muitas insegurancas pessoais!
Quem trabalha, tem a culpa de nao estar em casa com os filhos.
Quem nao trabalha tem a culpa de nao ajudar financeiramente, de se sentir inferior, do que os outros podem pensar...etc..etc...
Uffa....esse assunto da pano pra manga,se eu fizer um post sobre isso,com certeza linkarei esse texto da Alessandra!!
Um beijao pras duas!!!