Por que há questões que são melhor respondidas com novas indagações!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Metamorfose ambulante? Nem tão ambulante assim...


Certos sentimentos são difíceis de explicar, nem sei mesmo ao certo se merecem explicação. Mas doem fundo. Quanto mais fundo eles doem, mais difícil expressa-los, e mais necessário se faz tentar. Algumas questões me empurram para aprofundar meus sentidos, quanto mais fundo mergulho, mais dói. Então entro numa fase de fuga, em que me torno mais superficial e menos intensa. Essas fases duram algum tempo e sempre encerram-se com um momento de crise que exige de mim reflexão.
Sempre percebi que pessoas menos reflexivas parecem mais felizes. Curtem samba, futebol, novela e conversa fiada e são muito alegres. Vivem rodeadas de amigos, sabem andar em bando, em grupos, são seres gregários. Não questionam nada, aceitam as coisas como estas se lhes apresentam. São boas para executar funções. É divertido conviver com elas, não são provocadoras nem instigantes, são apenas felizes sem tentar desvendar a felicidade.
Tento ser assim, diversas vezes tentei. Nunca dura muito tempo. A reflexão sempre me invade, domina todos os espaços, condena minha superficialidade, deixa claro que não tenho uma personalidade muito popular, de fácil acesso. Sou tímida, intensa, por vezes taciturna. Sou distante, questionadora até do que não se ousa questionar, sou pedra no sapato, sou cutucão na testa, julgo a todos e começo por mim.
Questiono meus amores, minhas dores, meus fracassos e também os sucessos. Questiono por questionar, como vício incontrolável. Vício que gera culpa após saciedade, ressaca do questionamento. Seria possível viver assim? Pode-se ser feliz assim? Eu sou feliz, em determinadas fases sou feliz. Sou feliz permeando tristezas, questões. Sou feliz em conjunto. Sou feliz quando ajudo alguém. Sou imensamente feliz quando o Bê está comigo, mesmo quando eu não estou com ele. Sim, isso é possível. Quantas vezes basta-me sabe-lo presente. Ouvir sua gargalhada à distância, enquanto brinca com o Vi no cômodo anexo. Basta-me pensa-lo, basta-me sabe-lo.
Por muito tempo imaginei que de tanto questionar entenderia, e que quando entendesse saberia como ser feliz. Saberia as regras do viver. Mas nada disso me aconteceu. Quanto mais questões, mais questões. Quanto mais anseios, mais dúvidas. E as fases de melancolia me acompanham, como uma amiga indesejada e sempre aguardada. São momentos em que me conheço mais. E quanto mais me conheço mais conheço as pessoas e melhor entendo como nada é tão óbvio, tão igual nem tão diferente. Rótulos não se encaixam em pessoas, mas fica fácil decifrá-las. Mais fácil do que eu gostaria. É duro entender motivações íntimas que nem os próprios percebem. Confrontá-las já foi uma prática corrente, entendi que não faz bem, de modo geral as pessoas não estão dispostas a ouvir, a pensar, a refletir. Certos espelhos não devem ser dispostos no living, se suas imagens refletem a alma. Como um retrato de Dorian Gray ninguém quer ver suas falhas reveladas em obra de arte. Isso não é arte como se pensa quando se pensa na palavra arte.
Quem sorri quando está sozinho? Quem sorri para si mesmo sem estímulo externo?
Minha resposta à pergunta: Sou feliz? É sim. Sou feliz. E tenho muitos porquês para isso. Sou feliz por que tenho família, por que tenho um amor. Por que tenho um filho lindo, saudável, inteligente, carinhoso. Sou feliz por que tenho saúde, inteligência, um trabalho que gosto, e por que gosto de com quem trabalho, sou feliz por que tenho sonhos, tenho planos futuros. Sou feliz por ter fé em Deus, por ser sua amiga íntima, por sabe-Lo presente em minha vida, mesmo questionando formas e estigmas.
Mas também sou triste (não infeliz) e aí não sei dizer bem por que. Sou triste por que choro sempre que estou sozinha, por que me sinto sozinha, por que não sei dividir meus sentimentos, por que gostaria de ser muito diferente de quem sou. Sou triste por que enxergo lugares e sentidos que não sei se gosto de enxergar sempre, mas consigo ainda assim ser feliz por este motivo. Queria questionar menos e seguir mais em frente. Ser mais ativa, menos pensamento. Ser mais concreta, menos sutil, menos etérea. Há momentos que me questiono se estou realmente aqui, e esta reflexão me leva a questionar o que é realmente e o que é aqui. E este processo nunca se encerra e perguntas não podem ser respondidas. Não com respostas, apenas com mais perguntas. Se soubessem o desgaste que isso gera... se soubessem o quanto é difícil ser questionadora. E neste momento eu entro na fase fútil e superficial, que tenta sufocar esta angústia que habita em mim, que tenta tornar-me diferente do que sou, do que tento saber ser. E vou seguindo, mais confusão que ideias, mais ideias que palavras, mais pensamentos que ações, mais ar que terra.

Um comentário:

Vicente disse...

Somos mais reflexivos e também somos menos reflexivos;
Curtimos samba, futebol, novela e conversa fiada e isso não é garantia de felicidade;
Vivemos, ou não, rodeados de amigos;
Por vezes criticamos insistentemente o outro, outras vezes não questionam nada;
Nem sempre aceitamos as coisas como elas se apresentam;
Nem sempre somos divertidos;

Rotular as pessoas é um dos maiores equívocos da sociedade moderna.

Somos tudo de bom, porém ainda temos imperfeições que nos garante as piores características do ser humano.

É nosso esforço em querer ser feliz que nos leva a mudar isso.

Essa metamorfose é nosso desafio, é nossa missão.