Por que há questões que são melhor respondidas com novas indagações!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nós descendemos de um herói


Esta é uma pequena homenagem que faço ao meu avô, que se despediu de nós no último domingo, dia 04 de outubro. Estou racionalizando bastante, e tentando compensar a tristeza com otimismo, com gratidão. Sim, gratidão mesmo. Por que quantas pessoas nós conhecemos que viveram todo o seu ciclo? Que tiveram a oportunidade de viver 90 anos, 62 de casados, comemorar com a família os 90 numa festa linda, conhecer 5 bisnetos, passar seu recado e deixar uma família inteira com saudades, orgulhosos por tê-lo em nossa árvore genealógica? Quantos você conhece? Eu só conheci ele!
Então, segue a homenagem, como a emoção me permitiu expressar.


Coisa freqüente e-mails e mensagens que nos dizem para nunca deixar de dizer a quem amamos que os amamos. Que são importantes para nós. Imaginava que levava essa lição à risca, por que acredito que é verdadeiramente tocante. Não guardo a melhor louça ou roupa para raras ocasiões especiais, digo a quem amo, que amo, como comidas gostosas quando sinto vontade, abraço e beijo e encho de carinho aqueles que me são caros. Mas opa, cometi um pequeno deslize nisso tudo e torço para poder reparar meu erro.
Ontem (28/09), aos 90 anos, meu avô infartou. Está internado, lúcido, mas com uma grave lesão. E no momento em que recebi a mensagem de minha mãe, do outro lado do celular, entendi isso. Entendi a importância do Vô Manel em minha vida, aliás, na vida da minha família.
Meu avô é um pernambucano arretado, forte, decidido, durão, e o elo mais forte entre nós.Você pode se questionar e dizer que o maior elo entre membros de uma família é o amor, e é isso mesmo. Meu avô é o amor em nossa família.
De uma família pobre, com muitos irmãos, no sertão de Pernambuco, veio meu avô para o Rio de Janeiro. Semi analfabeto, lutador, determinado, dotado de valores fortes e até bastante inflexíveis. Tenho muito orgulho de te-los herdado!
Apesar de ser o avô mais próximo geograficamente (morávamos todos no Rio de Janeiro, enquanto meus avós maternos moravam no interior de São Paulo e morreram quando eu ainda era criança) nossa aproximação com eles não era forte. São muitos netos, eu nunca estive entre os favoritos, entretanto agora entendo o quanto ele esteve presente dentro de mim a vida inteira. Eu sou muito parecida com ele. São deles os valores em que acredito e pelos quais me sinto valorizada. A concepção que temos de família, recebemos dele. Somos felizes e unidos. Ele é nosso elo de ligação.
Sim, estamos todos nervosos e apreensivos. Meu avô é estrutura de base, ele é exemplo a seguir. Ele é alguém que quero que saiba de minhas vitórias, de minhas conquistas. Adoro ouvir suas histórias, suas lições, seus conselhos. Falar com ele sempre me deixa feliz, mesmo quando é um pequeno bate papo por telefone. E por que quase não ligava para ele? Por que só agora isso tudo faz sentido em minha mente. Por que enquanto minha mãe, do outro lado do meu celular, me dizia o que estava acontecendo, eu tremia e sofria. E pensava nele, e pedia, mesmo sem pedir, que Deus o protegesse, cuidasse dele. O trouxesse de volta para nós.
Sim, sofro o risco de perder meu avô, a presença física de meu avô. Nunca verdadeiramente o perderei, por que ele está na minha obsessiva mania de honestidade, de verdade, de ser correta. No meu jeito duro e estúpido de ser franca, sincera. Ele está na forma como educo meu filho, com rigor, com disciplina e limites. Ele está na maneira em que lido com meu marido, buscando a harmonia familiar. Ele está no convívio com meus pais, meus tios, minhas primas...
Quando ele nos contava suas histórias, ficava difícil saber o que era realidade e o que era fantasia. Sua vida não foi fácil, teve uma infância dura, diz que matava rolinhas para levar comida para casa. Diz que veio por que era matador em Pernambuco, mas isso eu acho que era lenda, meu avô é um homem de princípios rígidos, um homem trabalhador e pacifico. Foi motorista de táxi, feirante, dono de posto de gasolina e acabou montando uma empresa de radiadores, a Radiador Mauá, cenário de muitas traquinagens da minha infância.
Eu só quero que ele fique bem, e então neste momento, irei correndo até ele dizer o que não sabia que tinha para ser dito até ontem. Que ele é um herói para mim, que o admiro e respeito. Que ele me inspira e me dá norte. Que o amo!

3 comentários:

Unknown disse...

Minha linda
Fico feliz demais em saber o qto o nosso velho marcou e deixou todo o seu ser invadir as nossas entranhas... ele é e será presente sempre em todos nós. Ainda sinto o seu perfume, as suas mãos fortes apertando as minhas, como dói a sua ausência carnal. Minha mana, que saudade!!
Essa foto é tão linda... saudade, dor que dói demais, mas como eu ando tentando entrar nessa fase que vc comentou... menos questionamentos, dúvidas e talvez um pouco mais de alegrias sem pensar muito.. levar a vida do jeito que vier... acho que tá ai a gde chave da felicidade.
Amei seu blog e vou visitá-lo sempre. Me achei bastante aqui, apesar de parecer forte, sou uma oscilação de sentimentos.
Tenho imenso orgulho e amor por vc. Amooooooo vcs demais e a nossa família.
Parabéns , vc é um espetáculo de pessoa!!!!!!!.
Bjssss no coração, sua tia Beth chorona.

Vicente disse...

Nunca é tarde para dizer eu te amo.

As palavras geram energias que são transmitidas em ondas para as pessoas que estão sintonizadas com essa energia. O sentimento de Amor que foram endereçadas ao Vô Manoel através deste blog (e até antes dele através do pensamento), certamente está deixando-o todo feliz no plano onde se encontra.

Paty Torino disse...

Tati, recentemente (09/12/09) perdi a minha mãe Conceição que me criou desde 2 meses de idade. Ela estva com 81 anos, já vinha apresentando alguns problemas de saúde, mas sempre lúcida. Tive esta mesma sensação de que deveria ter dito algo mais a ela em vida, mas depois cheguei à conclusão de que disse o que queria pra ela de maneiras diferentes e ela sabia, sentiu isso. Acredito na força das palavras, mas também acredito na força daquilo que não falamos, apenas sentimos. Recentemente sonhei com ela me confortando, me dizendo o quanto estava bem agora, sem os problemas que as doenças lhe traziam. Morreu cercada pelos filhos, netos, bisnetos, que sempre encheram sua casa de alegria até seu último momento no lar. Sei que o tempo em que ela esteve aqui entre nós ela foi amada e sabia disso!! Aliás, continuará para sempre sendo amada por nós, pois foi uma figura muito importante na vida de cada um! Bjs.!