Eu posso vender flores, e com isso comprar feijão. E foi sobre isso que a Meru Sami falou na sua postagem de Auto estima, ela hoje vende flores!
Pais não gostam desta vida insegura. Pais gostam de filhos com estabilidade financeira. Por que assim, podem descansar em paz. Foi desta forma, que recebi este e-mail:
Tati
(...)
Estude e se dedique pois seu futuro está aqui.
Ser escritor, no Brasil, é passa-tempo, é hobby.
O único escritor que se mantém com os direitos autorais é o Paulo Coelho, mais ninguém. E, olha que temos bons escritores que vendem bem.
Corra atrás do sonho mas viva com os pés no chão. Sem dinheiro para comprar o feijão, teu filho fica com fome. Esta é a realidade. Não abandone o sonho mas, esteja atenta aos chamados da vida adulta, viver de sonho é bonito quando se tem lastro para sustentar.
Ser pai, às vezes, é chato mas necessário.
Forte abraço.
Estude para o concurso, Deus te favoreceu com esta brilhante cabecinha, vez por outra complicada... rsrsrs
Que o Grande Arquiteto do Universo te ilumine e guarde.
Pereira:.
Este é o meu pai. Um pai sempre presente e que estabeleceu cotas de votos por dia. Está se dedicando, por que sabe que isso me fará feliz. Também teme por meu futuro, por que no nosso país, ganha dinheiro o jogador de futebol, a mulher-qualquer-fruta, que mostra tudo, não esconde nada, só o cérebro, o político corrupto (pleonasmo?), e os funcionários públicos. E de carona com estes últimos, os cursinhos preparatórios para concursos!
Eu quero outro caminho, eu não nego que tenho um pouco de medo dele. Fugi dele a vida inteira, por medo de não ter feijão na mesa. Li este livro adolescente, acho que de propósito nos dão. Para desencorajar mesmo... Ou será que não? Por que Campos Lara pode ter passado por todo aquele sofrimento, ou ter incutido tanto sofrimento à família, que não foi tanto assim, mas seu filho escolhe o mesmo caminho! Se melhor era ser como a mãe, por que o filho não decidiu ser operário?
Eu nem sei bem o que estou escrevendo hoje aqui. Eu sei que meu pai está certo, e o diz por amor, também sei que lutar por nossos sonhos é preciso. E que chegou a um ponto que está difícil conciliar, não apenas o tempo, mas minha condição. Quando estou escrevendo, sonhando, meu lado pé no chão tira férias, e vice versa
Outro dia, assim que saiu o edital, o Vi sentou comigo na cama e me perguntou: "É isso mesmo que você quer? Por que eu vejo outro caminho para você. Te vejo mais feliz escrevendo." E eu o amei ainda mais neste dia. E tive certeza que tenho um marido que me ama não pela aparência, pelo vestido ou pelos sapatos trocados, mas por quem eu sou em essência. Ele me enxerga! O Vi também está certo. Eu sou muuuuito mais feliz escrevendo. É algo que faço sem esforço, sem dor, sem pesar, o dia inteiro, a vida inteira.
E aí me lembro de uma frase atribuída a Buda: "Sua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele."
Agora eu pergunto: Qual o meu trabalho? Que caminho eu sigo? Queria que alguns escritores, que vivem disso, passassem por aqui e me dissessem: fica tranquila, é possível viver de livro no Brasil. Eu não sei se eles existem. Se existem, não frequentam meu blog. Frequentam? Então esta pergunta é retórica, não terei respostas externas. As respostas precisam vir de dentro.
Quer saber o que descobri sobre mim? Eu quero viver de escrever! Eu tenho filho para sustentar. Eu preciso de flores, para me sentir feliz. Eu preciso de feijão, para alimentar minha família. Eu não sei que caminho seguir... O que eu quero ou o que eu devo? Por que sempre optamos pelo que devemos e não pelo que queremos? Em que momento estes caminhos se juntam? É possível não nos frustrarmos sendo só responsáveis e não sonhadores? Então por que sou assim, tão sonhadora? Para que servem tantos devaneios e ideias se não posso segui-los a ponto de me sentir plena?
Neste momento, com aval do marido, tendo muito em direção ao sonho, e voto, voto, voto. Meu pai me chama à realidade... Vou ver, buscar uma forma de conciliá-los. HELP-MEEEE!!!
Sinto que hoje o dia será duro. Lá estão as Tatis em intenso conflito... Não falei que era assim?
Publico este texto temerosa. É mais forte do que eu, neste momento. Não sei como será interpretado...
Beijos a todos,
Tati.