Esta é minha participação na blogagem coletiva proposta pela Glorinha, do Café com bolo, Emoções e Sentimentos.
Prato do dia: Inveja.
No meu tempo de pequena as coisas não eram como hoje. Brinquedos eram presentes no dia das crianças e no Natal. No dia das crianças, uma lembrancinha, no Natal, o melhor presente de todos! No aniversário não tinha presente dos pais, tinha uma festa, que também não era como as festas de hoje. Era um bolo com a família e amigos mais chegados, na própria casa ou apartamento. E era ótimo!
De todos os brinquedos que ganhei nenhum foi mais especial que a Quem me quer. Nem mesmo a bicicleta cecizinha azul, linda e com cestinha foi mais querida que a Quem me quer. Aquela foi a boneca dos meus desejos! E foi um presente de Natal.
De modo geral minha mãe, que adora criar clima de magia, escondia os presentes, mas eu sempre achava, mesmo que sem querer. É que curiosidade é talvez o traço mais marcante de minha personalidade. Achei a bicicleta no quartinho de empregada e até a coleção das Moranguinhos embaixo de poltronas e sofás...
Desta vez, não sei explicar por que (perguntem a ela), nós escolhemos a boneca. Lembro da vitrine, com vários modelos : roupas e cabelos diferentes, uma imensidão de cores. Tinha também menino Quem me quer. Lembro do comercial na televisão, com a música e os diversos modelos sendo apresentados. Cada uma mais linda que a outra. Era uma loja grande, ou eu que era pequena? E as bonecas todas ali, iluminadas, de braços abertos, com aquela carinha encantadora. Se fosse nos dias de hoje, faríamos a coleção da Quem me quer. Naquele tempo, não! Tinha que escolher uma.
Eu me apaixonei pela que tinha cabelos rosa, rabo de cavalo e uma camisola verde água. Ah, eu amava verde água, achava a cor mais linda de todas as cores... Só que ... eu tenho uma irmã mais nova. Nesta época, tudo o que eu queria era o que ela queria. E eu odiava isso! Acho que até hoje sou assim, gosto do que ninguém gosta, do que é diferente, por causa disso. Sempre gostei de me diferenciar. Pronto! Estava armada a confusão. Dentre tantos modelos de Quem me quer minha irmã queria a que eu escolhi! Ai, que raiva!!!
Bati pé, reclamei, ela fez beicinho, chorou... Minha irmã sempre soube conduzir melhor as coisas. Eu endurecia, ela adocicava. Eu ficava irritada, ela, chorosa. Daí vinha aquela conversa antiga e atual, de que eu era a mais velha, que já era uma mocinha, que sabia entender e tal... Tá, tá bem... Escolho outra! Mas aí ela não pode trocar!!!
Olhei, olhei. Um tanto decepcionada. Até que aquela linda boneca, com cabelos acastanhados, vestidinho azul com avental e cabelos em maria chiquinha conseguiu me convencer de que era a boneca ideal para mim. Me rendi a seu charme.
Ah, que boneca querida! Como queria uma dessas de novo em meus braços... Que fim levou minha boneca tão amada? Não me lembro... Lembro que brincávamos muito com elas, que eram nossas filhinhas fofas, e mesmo com a paixão pela minha, sempre olhei de soslaio para a da minha irmã...Até que, bonecas gastas, cansadas, muito brincadas... perderam suas presilhas de cabelo.
As maria-chiquinhas desfeitas da minha boneca renderam-lhe uma cabeleira cheia, vasta, bela. A de minha irmã, ao perder seu rabo de cavalo, desnudou uma ampla calvície, estilo coroa de padre, e um cabelo ralo e irregular, que ficava muito comprido na parte de baixo e mais curto em cima, nada parecido com um cabelo em camadas, diga-se de passagem. Uma coisa horrível!
E se naquela hora, algum olhar atento se virasse em minha direção, veria uma menina disfarçando um quase sorriso vitorioso, preso no canto da boca...
Beijos a todos,
Tati.
Beijos a todos,
Tati.