Por que há questões que são melhor respondidas com novas indagações!

sábado, 15 de maio de 2010

E não é só isso... você leva inteiramente grátis..

Estou parecendo propaganda enganosa. Digo que vou ficar ausente, que só volto dia 20... mas cadê que consigo? Melhor deixar o chão empoeirado, a roupa que tirei do varal por dobrar (passar? O que é isso?), mas não deixar de estar aqui... Como este espaço me alegra, meu Deus...

Quero contar que escrevi a blogagem branca e que estou daqui pensando em mil coisas que ainda desejo postar dia desses. Depois de um post besteirol como o anterior vou para um tema um pouco mais denso, mais reflexivo. Estou pensando nisso desde quinta, quero que pensem comigo, ok?

Marido e filhote em visita ao Museu da Vida - Amo esta foto. Acho que ela representa a condução, o apoio, a segurança, aquilo que um pai deve representar para seu filho. (isso é uma legenda ou um testamento?)

Quinta, no trabalho, uma colega começou a comentar sobre um abrigo para crianças que ela frequenta. Falou sobre como é bom e que aqueles que ali estão são privilegiados frente a outros abrigos. Então comentou sobre uma menina linda, que foi tirada da avó que era camelô e levava a menina com ela quando ía trabalhar. Disse que o Conselho Tutelar tem uma ficha longa e complexa, onde avalia se a pessoa tem geladeira, quantas camas tem na casa, como é a alimentação... enfim, coisas que TODOS nós queremos ter, certo? E que se não atingir um determinado padrão a família perde o direito à criança. Que a criança é levada ao abrigo e, dependendo da situação, é colocada para adoção. Até onde sei, se a criança tem família ela não pode ser posta para adoção, mas não tenho conhecimentos profundos sobre isso.

Independente de qualquer coisa, o que fiquei pensando e tentei argumentar com a interlocutora é, uma família é punida com a perda da guarda por ser miserável? Deixar um menor de 12 anos sozinho é abandono de incapaz e é crime. Uma mãe sozinha que precisa trabalhar e não pode pagar creche... como faz? Se tem creche do governo na região e ela consegue vaga, ótimo. Senão? Fica em casa com as crianças e aguarda a boa vontade de um rei mago que leve incenso e mirra? E se leva a criança para trabalhar (sim, por que pode não ser uma coisa ótima, mas o camelô é um trabalhador informal em nosso sistema excludente) também está em desacordo com o estatuto da criança? Mas o que será que é o melhor para a criança? Um abrigo com refeições preparadas por nutricionistas, onde ela é mais uma em 30 ou o colo da avó, comendo feijão com farinha? Ou será que melhor mesmo seria investirem mais em creches comunitárias onde estas famílias pudessem deixar suas crianças durante o dia e buscá-las à noite? Ou a possibilidade de trabalho digno para estas pessoas para que pudessem cuidar, elas mesmas, de seus filhos?

Será que o Conselho tutelar também retira das pracinhas as crianças que são educadas por babás enquanto suas mães vão a festas, passeiam, circulam... Veja bem, nada contra babás. Meu filho, até semana passada, passava 8 h por dia na creche. E eu amava e me sinto uma boa mãe. O que estou falando é das "mães por status", aquelas que usam filhos apenas para fotografia. Será que o conselho tutelar intervém?

O que é levado em consideração? Apenas os bens da família? Se tiver amor, mas não tiver recursos, esta família merece o castigo? Já não são punidos o suficiente? Não há formas melhores de intervenção, como auxiliar esta família a sair da posição de extrema miséria?

Na sequencia, ainda na quinta, na casa da minha mãe, de noite, uma amiga que é abertamente contra adoção estava comentando sobre o manicômio (é esse o nome ainda?) onde está fazendo estágio. Contou a história de uma mulher bipolar que foi internada após uma crise violenta e que estava grávida. Disse que teve a criança, que a família não quis e que deram para adoção. Então ela questionava. Falava: "Já pensou? Quem adotar não vai ter um histórico, não saberá que a mãe era uma bipolar. Que perigo!"

Gente, fala sério? Quem inventariou a família do marido (ou da esposa) antes de casar? E qual a garantia embutida nisso? E se o filho, gerado na sua barriga, tiver problemas físicos ou neurológicos, é menos filho? Estas crianças que estão sem família devem seguir este destino fatalista? Não há chance? Futuro? Esperança? Na minha família tem caso de esquizofrenia e de alcoolismo. Não tenho o direito de ter filhos? Devia ter evitado a procriação? Afinal, quem teria direito a eles? Se assim fosse, só a bailarina do Chico seria mãe...

Muitas questões e nenhuma resposta. Só as tais perguntas em resposta. Não tenho respostas e nem espero por elas, quer dizer, quero ver mudanças, isso sim seriam as respostas. Por onde podemos começar as mudanças?

Tudo bem, faltou a leveza, né? Mas desta vez não consegui... Apenas agradeço a sorte de ter nascido em família de classe média e de oferecer o mesmo a meu filho. Assim, ninguém avalia se na minha casa tem feijão ou se dou biscoito de jantar...

Beijos a todos,

Tati.

20 comentários:

Isadora disse...

Nossa Tati que questão hein? Confesso que fiquei muito assustada com o que li. Como, alguma Instituição tem o direito de determinar se uma criança pode ou não ficar com sua avó, já que está trabalha e precisa levar a criança junto? Isso é um absurdo.
Só posso imaginar uma criança ser tirada de sua mãe, por exemplo e caso de maus tratos, agressões. Isso sim me parece uma situação, em que alguma Instituição possa intervir visando o bem estar físico e emocional da criança, fora isso entendo que nada justifica.
Ao invés de crianças lotarem lugares como esse deveríamnos ter uma política que garantisse que uma mãe ou família com uma renda mais baixa tivesse condição de deixar seus filhos em uma creche. Isso sim seria correto.
Triste por ver tanto descaso e absurdos como os que vc descreveu.
Nessas horas me sinto afortunada.
Um beijo

Tati disse...

ISADORA: Também me assustei e nem sei se é real. São as palavras de uma colega de trabalho que faz visitas a um destes abrigos como voluntária. Não sei se a realidade é assim, mas como você, me assustou a simples possibilidade. Acho o mesmo, criança tem que ser separada por maus tratos, abusos, sejam os pais ricos ou pobres. Queria que a lei funcionasse assim, não olhasse conta bancária. Mas mando tão pouco... Beijos.

Anônimo disse...

Que coisa mais triste tudo isso. Logo pensei: coitada da avó! Que dor perder a netinha por ser miserável. E os que vivem na rua? Sem eira nem beira? Esses sim deviam ser alojados.
Nossa, isso me doi muito.
Beijos na alma, querida amiga!

Claudiene Finotti disse...

Oi!
Essa semana vi no depoimento do final de Viver a Vida a história de um casal homossexual que adotou um menino. Achei lindo e emocionante. Na minha família tem mais de uma dezena de casos de adoção, com filho de todo jeito, e assim também o são os biológicos, uma flexa lançada no ar e que não se sabe onde vai parar. Eu acho que o conselho tutelar deveria ser composto de pessoas profissionalizadas e não eleitas, como são hoje. É muito complicado, é realmente melhor perguntar do que responder isso, amiga questionadora...rs...

Bjão e não suma meeeesmo!

Clau

Tati disse...

MERI: Também fiquei muito mexida com esta história... Gostaria muito que alguém me dissesse que a informante errou, que não é bem assim... Beijos.

CLAU: Concordo com você. Filhos são flechas lançadas no ar, sejam eles adotados ou biológicos. A função do Conselho tutelar deveria ser proteger as crianças e não julgar os membros de uma família, ainda mais se os critérios forem mesmo estes... Que bom que sua família tem tanto amor para dar e vive a adoção. Acho lindo! Beijos.

Desconstruindo a Mãe disse...

Hoje mesmo conversava com a mãe do meu melhor amigo.
Ela é professora de séries iniciais em uma escola na periferia, no morro mesmo, onde tem fasvelas perigosíssimas. Ela comentava que as professoras, o serviço de orientação escolar e a direção precisam ir atrás do conselho tutelar e até do ministério público pra cobrar atitudes em relação aos pais que abusam moral e fisicamente das crianças... Nessas horas me pergunto até quando haverá 2 pesos e 2 medidas para atuar na busca do bem estar dos menores...

Como professora e mãe sei que não basta ter posses para uma criança ter bem estar.

Saúde mental depende de afeto, de estar perto de quem se ama e ter tempo para viver uma rotina de família. As pessoas precisam por diversos motivos estar cada vez menos com as crianças... Sobre isso o conselho tutelar e o ministério público não deveriam também atuar?

Glorinha L de Lion disse...

Tati...como sempre uma questão para se pensar...cada caso é um caso...se a criança deveria estar na escola, não era para estar com a avó...ao mesmo tempo, se ainda não estava na idade escolar, não era para estar na rua...mas dá pena da avó que não tem com quem deixar...tem que haver creches comunitárias...ô seu Mulla? Cadê vc? Larga essa cara de poste e vai cuidar do que prometeu pro povo!Se roubassem menos sobraria dinheiro pra fazer creche, dar ensino de qualidade...
Mas cadê? Tudo promessa furada...enquanto isso...mais uma pergunta sem resposta e sem previsão de resposta, o que é muito pior...
beijos.

Paula Betzold disse...

Nossa, adorei o post! realmente perder a guarda por miseria?! complicado, né? ao inves de levar pro abrigo o conselho tutelar deveria ajudar aquela familia. As vezes ter uma geladeira nao significa ter amor, e vice versa!!!

Tati disse...

DESCONSTRUINDO: Se o caso é de maus tratos acho que o Conselho deve analisar, mas não apenas no morro e sim em qualquer lugar. Na mansão do Morumbi ou da Vieira Solto também! Queria também te agradecer as visitas e a linkagem no seu blog. Obrigada, viu!

GLORINHA: Acho que a resposta está mesmo aí. Roubar menos (de pereferência, não roubar) e atuar pela população, como indica o cargo. Mas falta muito ainda, né?

PAULA: Seja bem vinda! Também acredito que o amor deveria ser o primeiro item a ser avaliado. E devia ter um peso maior do que fogã e geladeira... Beijos.

chica disse...

Que tristeza isso,Tati! Abordaste muito bem!um lindo domiongo e tudo de bom!chica

Carmem Tristão disse...

ai que situação... lembrei de uma reportagem que vi há algum tempo na TV. o cara era catador de papel, desses que puxam carroça o dia inteiro. e os dois filhos pequenos iam trabalhar com ele. pai amoroso, dava banho, comida e carinho. como ele tinha um bairro fixo pra trabalhar, os moradores começaram a fazer amizade com a família. davam brinquedos, comida, banho, roupa. muitas vezes levavam os meninos pra casa e devolviam no final do dia. e o que o conselho tutelar fez????? tomou as crianças do pai! aí vem o que achei simplesmente louvável: os "vizinhos" se revoltaram e tiraram as crianças de lá. aí ficou assim: as crianças eram criadas com o pai por toda a comunidade em que ele atuava. pois é. ainda consigo ver justiça nesse mundo.

Tati disse...

CHICA: Também acho triste demais...

CARMEM: Ainda bem que existem histórias como essa, que fazem com que as esperanças de mudanças renovem-se e nos lembram, a todo o instante, que o poder é nosso, basta assumirmos isso!
Beijos e obrigada por esta história.

Mila Olive disse...

Tati, li tudinho... mas dessa vez não vou tecer nenhum comentário antes de concatenar as idéias porque este assunto é bem delicado.

Beijocas friorentas... rs.

Tati disse...

Mila, não é necessário mais nenhum comentário. Passei no seu blog e entendi tudo, concordei com tudo e minha admiração por você triplicou! Mas se quiser comentar, será um prazer e terá muito valor.
Beijos.

Nanda Nascimento disse...

Nossa Tati, acho muito bacana quando leio estes questionamentos, por que as vezes tenho a triste sensação,que as pessoas nem percebem a profundidade das coisas.


Tenha uma linda semana!

Beijos e flores!

Anônimo disse...

Pois é Tati, essa questão é muito delicada e possui infinitas variáveis que, no meu pensar, passam por uma fundamental: o controle da natalidade (que não se confunde com planejamento de natalidade). Veja bem, se de nove em nove meses nascer uma criança em estado de miserabilidade, (que, sabemos, já nasce doente e debilitada, dependente eterna da assistência social e previdenciária) não haverá governo, nem impostos, nem assistência social, nem boa vontade que equacione e resolva essa questão. Há milhões de projetos assistenciais que as entidades filantrópicas colocam em ação sistematicamente, ano após ano, para atender famílias, crianças, velhos, jovens, doentes, enfim todos os tipos de carência que a gente vê por aí, mas a cada ano aumenta o contingente. E daí, que fazer? Claro que faltam creches em full time, empregos, etc., que pelo menos abrandariam a questão. Mas abrandar não é resolver, pois em assistência social, na medida que se ajuda um, está-se tirando de outro que também precisa e é impossivel formular critérios de carência justos e adequados, pois cada caso é um caso. É como se fosse uma "justiça" capenga. É complicado mesmo. E somado a tudo isso, essa roubalheira institucionalizada! Lamentável!!
Quanto a história que foi contada sobre a avó, acredito que esteja faltando algum dado, pois a guarda da avó, sempre será a mais adequada, inclusive do ponto de vista legal e assistencial. Deve ter acontecido algo que a gente não sabe. Um beijo amiga, ótimo post.

Taia Assunção disse...

Achei bastante pertinente o comentário da Marli, realmente são infinitas variáveis. Na verdade temos que tentar ser menos passional e ver o que é melhor para a criança, ainda que as vezes isso possa representar o sofrimento da família que não tenha condições de criá-la. Não tem como ser feliz junto dos seus passando fome e estando a mercê de todo tipo de abuso e violência. Há sempre dois lados da moeda. Beijocas!

Tati disse...

NANDA e MARLI: O assunto é mesmo profundo e complexo, não tinha a intenção de esgotá-lo, apenas colocar em pauta. Coincidência ou não, descobri hoje, no jornal, que esta é a semana de incentivo à adoção. Um caminho de amor importante e que deve ser desmistificado, não à toa coloquei os dois assuntos na mesma postagem. Vamos pensar alternativas, amigos. Pensar com amor. Beijos.

Beth/Lilás disse...

Tati,
É uma situação complexa e delicada, mas talvez criada por um desgoverno que não faz o trabalho de base anteriormente, ou seja, já deveríamos ter um plano para controle de natalidade em nosso país. Não é justo que pobres continuem colocando crianças no mundo sem controle, apenas proliferando como ratos e depois querem creche do governo.
Por um outro lado, crianças de mães pobres ou classe média que precisem de creche enquanto elas trabalham é justíssimo, afinal é assim em outros lugares do mundo.
Acho que o problema é sempre de parte do governo que não cuida de seu povo como deveria.
beijo carioca

She disse...

Tati! Simplesmente sensacional tudo que colocou e todas as perguntas em resposta que abordou! Parabéns pelo post, muito bom, concordo contigo em tudo, principalmente, que as soluções seriam as melhores respostas... bjo, bjo!

PS: Linda foto mesmo e amei o testamento! Ops! Quer dizer a legenda... kkkkkkkk ;)