Este é um questionamento que me faço há anos. Intensificou-se depois que o Bê chegou... Vou tentar me explicar.
Sempre tentei oferecer uma alimentação relativamente saudável. Não sou fãzoca de cozinha. Tenho, entretanto, apreço por bons alimentos. Como, com prazer, uma bela salada. E dispenso, sem pesar, um hamburger ou qualquer outro tipo de fritura.
Durante muitos anos não comi carne. Quando casei, ambos não comíamos, fui preparar a primeira refeição com carne depois da gravidez. Isso por que fiquei anêmica e precisei suplementar. E por que senti vontade.
Eu não sou da turma que não faz restrições alimentares, ou tento não fazer. Eu como o que gosto. Tenho a sorte de gostar de coisas boas. A questão é que não gosto de preparar o que mais gosto de comer. Morro de preguiça de elaborar grandes saladas. Pratos com muitos legumes e verduras... Aqui em casa sou adepta da cozinha expresso. Massas, strogonoff, pratos em que a carne já esteja no molho e pronto: duas panelas, no máximo, meia hora de cozinha e bom apetite...
Isso precisa ser reformulado. O Bê adora frutas, sempre gostou e teve um caso de conseguir que ele trocasse, espontaneamente, um biscoito recheado por um prato de uvas. Alegria geral dentro de mim!
Acontece que o Bê não mora numa redoma. E apesar de não conviver com refrigerantes e biscoitos amarelos em casa, ele os encontra na rua. E a rua, algumas vezes, é casa. Como na casa da avó, minha mãe, e na escola. Quando ele era pequeno eu disse que estes biscoitos eram biscoito-porcaria. Ele confundiu as palavras e o chamava biscoito de meleca. Adorei a comparação, imaginei que se ele criasse esta imagem na cabeça jamais iria querer experimentar. Que nada... Esta semana veio da escola questionando.
- Mãe, sabia que não existe biscoito de meleca? Eu comi, mãe. O Matheus levou e é uma delícia. Eu quero que você compre para mim também.
Fui franca, expliquei o porque do termo, por ele ter se confundido e arrematei:
- Eu não quero comprar para você por que não faz bem para a saúde. Eu gosto de cuidar de você.
Ponto final nesta hora. Sei que ele retornará ao assunto. Consegui retardar a conversa, ele deve estar pensando em novos argumentos.
Com coca-cola foi o mesmo. Aqui em casa não gostamos, não compramos (sorry, Isa). Ele tem contato com refrigerantes em festinhas, na casa da minha mãe e na lancheira do colega. Bebidas eles não podem dividir. Sorte a minha! Sempre oferecemos muito suco. Festas, de modo geral também tem suco ou mate ou guaraná natural. Ele chegou me dizendo que gostava de coca-cola, e nas festas da escola aproveitava para se empanzinar. Ok, esta escolha é dele, infelizmente.
Agora a questão: ouvi outro dia uma nutricionista explicando que não se deveria deixar o refrigerante para os finais de semana, senão a criança o entenderia como um alimento (?) de dia de festas, especial, e o valorizaria mais.
Há também aquelas correntes que dizem que alimentos não devem ser forçados, e que as crianças seguem o exemplo dos pais. O Bê não me vê comer muitas saladas, por que o faço em horários de almoço, em restaurantes mais do que em casa. Isso poderia explicar sua não aceitação de legumes e verduras. Que um dia ele adorou, e hoje rejeita... Agora, o que explicaria ele gostar/ adorar, um alimento que sempre foi entendido como "meleca"? Querer algo para o qual sempre fizemos careta?
Se eu começar a proibir alface ele terá curiosidade e irá amar saladas? Posso fazer isso. Se eu força-lo a comer biscoitos recheados, beber refrigerante sempre que tiver sede, obrigá-lo a ingerir um pacote inteiro de balas ele passará a ter aversão? Como é isso?
Por que esta filosofia só funciona para alimentos saudáveis? Eu não acho que são piores em sabor. Eu prefiro uma maçã do que um pirulito. Sempre preferi.
É confuso, não é? Não consigo perceber enlatados, processados, artificiais como mais saborosos. No entanto há uma aceitação mais fácil. Não há rejeição mesmo quando são forçados. Há um forte apelo que não faz parte de mim, por isso não entendo.
Aí vem também as propagandas. E uma que me irrita profundamente é do Mac Donalds com seus lanches tristes. Pagar por um brinquedo e receber um lanche-bomba de brinde é o fim! O Bê não gosta do lanche, nem das batatas, nem do hamburguer ou nugguets. Toma só o suco, que é ultra-processado e artificial. Só que ele assiste a propaganda, e os brinquedos são tão interessantes, seus amigos da escola colecionam, seus primos também. Ele sempre nos pede para ir ao Mac. Diz, desta vez eu como o lanche... ele ainda não entendeu que não fazemos a menor questão que ele coma. Também não queremos comer. É ruim, e ainda por cima, faz mal... A rede girafas inseriu brinquedos no seu prato infantil também. Testamos e achamos mais interessante. Ele ainda quer colecionar os dois. Ah, este tipo de marketing devia ser proibido por uma saúde pública que insiste em dizer que há epidemia de obesidade... Tanta demagogia...
Muito mais saboroso um suco de laranjas fresquinho do que um copo de refrigerante, não é? Sou um ET? Será que meu paladar que é alterado?
Tudo muito estranho... Alguém me explica este mundo?
Vou tentar ser mais clara na minha questão: Se eu obrigá-lo a tomar refrigerante e comer bala em todas as refeições, ele vai detestar estes itens?
Se eu disser que brócolis só nos finais de semana, se tornará o prato favorito? A filha da minha prima ama brócolis. Troca qualquer coisa por brócolis. O Bê já foi assim com beterraba, hoje não gosta mais... Se eu proibir, disser que de jeito nenhum, ele se tomará de paixão por estes legumes? Esta é a dúvida: a mesma psicologia serve nos dois sentidos?
Beijos,
Se eu disser que brócolis só nos finais de semana, se tornará o prato favorito? A filha da minha prima ama brócolis. Troca qualquer coisa por brócolis. O Bê já foi assim com beterraba, hoje não gosta mais... Se eu proibir, disser que de jeito nenhum, ele se tomará de paixão por estes legumes? Esta é a dúvida: a mesma psicologia serve nos dois sentidos?
Beijos,
Tati.