Prato do dia: Raiva
Eu sempre fui a estressadinha, brigona, mal humorada do grupo. Isso desde que me lembro, ou desde que me contam... Ué, não é assim que você me vê? É que eu mudei! Um pouco... hehehe
Quando eu era criança brigava muito, e em geral meus oponentes eram meninos e mais velhos. Por que eu era corajosa mesmo! Me achava com isso... que feio...
Minha irmã era folgada, mexia com os outros, quando eles vinham tomar satisfação eu me colocava na frente e comprava a briga. Dia seguinte minha irmã já brincava novamente com seu desafeto enquanto eu, me tornava sua inimiga mortal, para sempre!
Por ser assim tive alguns apelidos como Mônica (e achei engraçado saber que a Beth chama a Glorinha assim), Juma Marruá (por que virava onça), entre outros. Todos nesta faixa...
As pessoas tinham medo de mim. Até minha mãe dizia isso. Meus berros eram mesmo assustadores! E até despedi uma empregada (aos 8 ou 9 anos de idade), por que favoreceu minha irmã em uma disputa, na qual ela estava errada, mas era fofa, né? Muitas coisas aconteceram ao longo dos anos. A maioria reforçava este meu estereótipo, do qual não gosto nada nada. É ruim ser a chata, zangada da história.
Demorei a entender algumas coisas. Já ouviu uma frase assim:
"O feliz agrada, o infeliz, agride". Conhece? Acho que existe um lado positivo na raiva, quando ela mobiliza a pessoa para mudar uma situação. Eu tenho uma amiga ultraquerida que usa a raiva a seu favor. Eu não sei fazer assim. Eu sou uma escorpiana que, como o animal, me enveneno nestas horas. A raiva, em mim, só faz mal. Sou lutadora, gosto de exigir meus direitos, muitas vezes apelo por exigir minhas vontades. Sou uma criança mimada, sei disso. E quero crescer neste sentido. Quando algo não me agrada, ou quando invadem meu espaço (motivo que mais me enfurece) eu tomo satisfação. E o faço com meus pais e com a corja de Brasília. Não tenho limites para isso. Vou em busca das minhas respostas, dos meus interesses. Que fique claro que respeito o espaço dos outros, e justamente por isso exijo que respeitem o meu. Eu não sou uma pessoa invasiva, folgada. Não costumo ser assim. Na adolescência meu fígado era uma bomba, puro veneno, muita raiva, uma menina com fumacinha sobre a cabeça.
Quando entrei para a faculdade, meus horizontes se alargaram. Lá eu era mesmo muito feliz! E as pessoas gostavam de mim, por que eu era sorridente, amiga, participativa, animada! Ainda não sei explicar muito bem o que faz toda a diferença. A liberdade, talvez.
E fui mudando. Muita coisa ainda aconteceu neste período. Eu não me tornei um anjo de candura, entendam bem. Fui só melhorando aos poucos. E se tiver que me definir em um dos 7 pecados, infelizmente, o meu é a Ira. Não gosto nada disso, entendam bem. Não sou barraqueira, odeio espetáculos, na rua não me exponho assim, não exponho quem está comigo. É uma coisa mais interna. Só não deixo de exigir o que acho que me é devido. E o faço com, e por, justiça.
Quando me formei a música que minha turma escolheu para mim foi "Rindo à toa" do Fala Mansa. E isso foi surpresa para minha família, que me achava carrancuda.
Muito tempo ainda e muitas tempestades depois eu conheci o Vi. Me apaixonei, fui correspondida. E o Vi é a pessoa mais doce que conheço. Eu ainda era impetuosa demais, mais raivosa do que gostaria de ser, e muito impulsiva nestes meus rompantes.
Uma vez, numa discussão (em que eu discutia sozinha), estávamos sentados à mesa e eu empurrei uma caixa que estava na minha frente. Claro que não era esta minha intenção, mas a caixa encostou no cotovelo do Vi, que estava apoiado à mesa. Foi sem querer, no entanto, doeu.
Se fosse eu, tinha gritado um palavrão bem alto e rancoroso, e brigado mais ainda. Sabe o que ele fez? Gemeu um ai, que foi mais para ele que para mim, colocou a mão no cotovelo magoado e baixou a cabeça. Ele encerrou o ciclo de raiva ali. Eu me senti mal naquele momento, muito mal mesmo, por que não tinha motivo para grandes discussões (não faço mais ideia de qual era o motivo da peleja) e eu magoara o meu amor. Recuei, pedi desculpas. E hoje tomo muito mais cuidado ao agir, não apenas com o Vi, com todos.
Se eu ainda escorrego? Muito mais do que gostaria. Sei, entretanto, que estou melhorando. E isso me consola. O caminho é longo e árduo. Hoje eu sou muito mais feliz, e por isso é mais fácil agradar. Não sou infeliz, só que não sei lidar muito bem com frustrações e contrariedades (não falei que sou mimada?), nestas horas acabo deslizando até o comportamento que conheço melhor. A PNL tem me ajudado também. Existem técnicas que nos ajudam a mudar comportamentos inadequados, que não nos agradam. Ao sentir raiva, posso respirar fundo, pensar em coisas boas, olhar o lado da outra pessoa, entender que não fez por mal, etc. Tem muitas maneiras de mudar um padrão ancorado. Eu me esforço!
Meu professor de PNL, inclusive, dizia uma frase assim: "Sentir raiva é como tomar veneno e querer que o outro morra." E não é mesmo isso? O mais envenenado da história é o raivoso!
Meu professor de PNL, inclusive, dizia uma frase assim: "Sentir raiva é como tomar veneno e querer que o outro morra." E não é mesmo isso? O mais envenenado da história é o raivoso!
Que vocês não me abandonem depois de uma confissão como essa. Assumirmos certos defeitos, aqueles que mais nos machucam, é bem difícil e eu pensei, repensei. Escrevi há dias e venho ajeitando... preocupada de como este texto será recebido. Abrir nossa alma de maneira escancarada é assustador! Que o carinho que tenho recebido por aqui não deixe de acontecer. Olhar uma pessoa além das projeções que fazemos, e enxergá-la como realmente é, pode ser um balde de água fria. Mas esta sou eu!
Uma Juma Marruá domesticada ainda pode virar onça.
Uma Juma Marruá domesticada ainda pode virar onça.
Beijos a todos,
Tati.