Por que há questões que são melhor respondidas com novas indagações!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"O Bê é assim por que escrevi, ou escrevi por que ele é assim?"


Quando eu estava grávida escrevi algumas coisas para o Bê (depois que ele nasceu passei anos sem conseguir escrever grandes coisas, hehehe), mas este texto em especial me deixa uma grande dúvida: Será que o Bê é assim em função do que desejei para ele, ou eu escrevi o que já sentia que ele seria? Perguntas que não tem resposta. Só sei que a gargalhada que ouvi a médium dando na consulta da apometria, assim que soubemos que estava grávida, é a mesma que ouço quando o Bê está muito feliz. Isso sei que não é coincidência...

"(19/11/04)
Meu filho lindo, com nome de guerreiro. Guerreiro da paz, na defesa dos animais.
Ainda sem te tocar já te amo como sei amar. E a cada dia mais.
É bom te sentir. Mexe sempre, mexe muito. Chuta, faz bagunça. por que é só assim que te encontro. E já sinto saudades!
Tudo o que se refere a você, ao seu ou ao nosso mundinho, me interessa.
Quero saber te fazer feliz. Te ajudar a crescer seguro, confiante, em paz.
Que seja um grande ser humano, mas acima de tudo, que seja você, a quem dedico amor incondicional:
Meu ventre, meu sangue, meus pensamentos e emoções, meu tempo, minha casa, meu coração e minha vida.
Seja bem vindo à nossa pequena família, Bê.
Te aguardamos repletos de esperança, alegria e gratidão.
Mamãe.

Era isso. Não tem um cunho poético, nenhuma preocupação com a formalidade da escrita. Apenas carinho de mãe que ainda estava para ser. E adivinhei direitinho o garotinho que ía receber!

Até a próxima.
Tati






Apenas para lembrar que o fato de mudar não significa mais ou menos amor, apenas edições e reedições que a vida vai fazendo em nossas vidas. Não saberia escolher entre a foto original e a editada. Cada uma tem seu momento e sua aplicação. E, original ou editada, somos nós dois, apaixonados, cúmplices, companheiros, vivendo um momento que faz parte de nossa história de vida.

Era só um teste de recursos do Blog, acabou virando um "textículo" de brincadeira, mas brincando para valer.
Beijos a todos (apesar de achar que só minha mãe lê isso... kkkkkk)
Tati.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O SEGREDO DAS BORBOLETAS






Esta história que posto agora é o meu livro. Na verdade, é meu sonho de livro. A primeira história que estou tentando publicar. Já enviei a várias editoras e até agora nada, mas vou continuar tentando. Acredito na história, tenho um carinho de mãe por ela, e consigo visualizá-la encadernada, ilustrada, disposta em livrarias. Será um prazer imenso o dia que isso acontecer. Por enquanto, a forma de compartilhá-la é assim, publicando no Blog. Espero que apreciem. Um beijo, Tati.



- De onde surgiram as borboletas?
- As borboletas são flores que aprenderam a voar.
-E como elas conseguiram?
-Pela força do pensamento!
Durante muito tempo as flores viviam presas à terra. Só conheciam o mundo pelo que contavam as abelhas, os beija-flores e tantos outros bichinhos da floresta que vinham visitá-las.
Lia, que era uma florzinha muito sonhadora, aproveitava para perguntar aos amigos sobre as paisagens visitadas enquanto lhes servia um delicioso lanchinho de pólen. E os bichinhos contavam maravilhosas histórias sobre suas viagens, sobre a floresta vista lá de cima, deixando Lia encantada.
De noite, enquanto as outras flores dormiam, sonhava em conhecer aqueles lugares.
- Ah! Como será incrível o lago visto lá de cima, e ver a copa das árvores. E poder conversar com flores que moram distante...
E desejava ardentemente ter a liberdade dos animais alados.
Mas certo dia, ao receber a visita do Beija-Flor desabafou com seu amigo, que se deliciava com uma enorme fatia de bolo de pólen:
- Ah, amigo Beija-Flor, gostaria tanto de poder ver tudo o que me conta...
- Sabia que mesmo muito pequeno sou mais pesado do que o ar? E que sou o único pássaro capaz de parar no ar? Assim consigo comer seus deliciosos quitutes. Muitas pessoas estudam meu comportamento e não sabem porque sou capaz disso. Você sabe por que consigo? Pela força do pensamento.
- Nossa! E como é isso? – exclamou Lia muito interessada.
- Um dia um camaleão ensinou ao meu avô que a gente é o que a gente quer, basta ter o pensamento firme nos seus objetivos, por isso ele consegue ficar da cor que deseja e se protege dos predadores. Consegue porque acredita que é possível! E meu avô aprendeu e me ensinou. E como eu acredito que sou capaz, eu faço!
- Mas como posso fazer isso? Eu não tenho asas...
- Primeiro você precisa saber exatamente o que quer.
- O que mais quero é voar! Ser livre, conhecer o topo das árvores, sentir o cheiro das folhas mais altas, visitar frutas no pé, ser levada pelo vento...
Então o Beija-Flor ensinou: - Pense firme na sua vontade de voar, mas não se esqueça nunca de agradecer pelo que já tem. A força do pensamento precisa ser alimentada por bons sentimentos, e a gratidão é uma boa forma de se manter feliz. Cantar também ajuda. Seja feliz por ter um sonho, por ter amigos que te trazem notícias do mundo, e por saber-se capaz de voar. Pense nisso todos os dias, mas não o tempo todo. Dê tempo ao seu sonho para que ele possa acontecer.
As sensações também ajudam a realizar seu sonho. Imagine-se voando, o vento em seu rosto, o som dos pássaros, as asas batendo, pense no que verá, nos perfumes que sentirá, nos sons que ouvirá. Pense nas sensações agradáveis que você terá ao saber voar. Lembre-se sempre destes sentimentos.
E assim fez a florzinha sonhadora. Pensou, quis, desejou. E algum tempo depois, acordou sentindo-se diferente. Feliz e diferente.
E achando que era o vento, deixou que suas pétalas balançassem, mas para sua surpresa, não eram pétalas. E já não era apenas um leve balanço, era um vôo!
Nossa amiguinha havia se transformado numa linda borboleta, um ser alado, livre e com a beleza da flor.
Voou pelos espaços abertos, visitou flores mais distantes, muitas não acreditavam em sua história: - Claro que ela não poderia ter sido flor!
Algumas, entretanto, acreditaram. E então margaridas, miosótis, lírios do campo e outras flores usaram a magia do pensamento. E uma infinidade de tipos de borboletas espalharam-se pelo mundo, contando, de flor em flor seu maravilhoso segredo.
- E porque nem todas tornaram-se borboletas?
- Algumas não acreditaram. Outras tiveram medo. Tem também aquelas que estavam felizes como flores, e não desejavam voar. Algumas ainda sentem que sua presença é importante naquele lugar, e preferem manter-se enraizadas onde estão, e são felizes assim!
E desta forma, seguindo o que deseja seu coração, vão as criaturas em busca de seus sonhos.
Você também pode ser o que quiser.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Normas e diretrizes para ser espontânea


Chego à conclusão de que preciso exercitar a leveza em minha vida. Que se danem tantos compromissos e essa necessidade despropositada de ser tão certinha, esse compromisso ensandecido com o politicamente correto. Isso torna minha vida difícil, chata, enfadonha mesmo!!
Quero mais risadas, mais improviso, me permitir ser mais relaxada e feliz! Ser feliz é mais importante que estar certa. Ok, ok... mas eu sempre penso nisso quando acho que minha opinião é mais correta que a do amigo e “não pode bater no amigo”. Mas eu nunca tinha parado para pensar que eu também posso estar muito errada em querer estar certa, porque eu fico uma grande CHATA!!
É chato conviver com alguém com essa mania, quase TOC... Agora, preciso baixar uns tutoriais, manuais, fazer um curso, certificação (...) para aprender a ser mais espontânea. Como faço isso?
Como estar tranqüila em relação à agenda do Bê, os se ele está ou não levando lanche no dia de piquenique. Ou se o lanche que ele está levando é mesmo saudável... por que isso é tão importante assim?
Para quem preciso passar uma imagem de certinha, profissional, responsável, que dá conta de tudo?
Não quero mais ser assim. Claro que não quero negligenciar filho, nem largar meu trabalho de lado ou morar num ninho de mafagáfos cheio de mafagafinhos... mas eu posso deixar acontecer, né? A gente pode almoçar biscoitos num dia, só para fazer um passeio diferente, sei lá.... será que consigo tudo isso?
Como as pessoas fazem para ser espontâneas? Preciso de um check-list!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Procura-se Dona de Casa, mínimo 5 anos de experiência na função.


Por muito tempo Alice sofreu – pasmem – por não ser uma boa dona de casa. Mas por que diabos precisava ser? E o que exatamente é uma boa dona de casa?
Alguém que consegue manter móveis livres de poeira, vidros que parecem espelhos, banheiros brilhando, com agradável perfume de limpeza? Toalhas brancas, macias, sem manchas? Um cronograma de atividades domésticas cumpridas à risca? Será isso? Comida fumegante no fogão e mesa posta sempre que a família chega para o jantar, diariamente...
Não, definitivamente Alice não era assim. Não dominava a arte da limpeza, atrapalhava-se entre panos, baldes e produtos. Sentia-se perdida na função. Aquela Alice considerada pró-ativa, dedicada, comprometida, eficiente no trabalho não fazia a menor idéia de como otimizar o trabalho de casa, definitivamente não se sentia mão de obra qualificada para a função.
Sim, ela estava de acordo com a missão e valores de sua casa, afinal de contas, estes vêm sendo definidos entre ela e o marido há 15 anos, desde o primeiro dia depois daquela linda festa de casamento, quando passaram a habitar o mesmo teto. Não tiveram lua de mel, não uma lua de mel clássica, com viagem, fotos e histórias para contar aos amigos, mas viviam em uma lua de mel infinita. Eram muito felizes juntos. Felizes com pizza, lasanha congelada, cachorro quente entre outros lanches e comidas rápidas. Alice não pilotava muito bem as panelas. Fazia uma coisinha ou outra, pratos simples, rápidos e práticos, mas não poderíamos classifica-la como indicada para o ofício. Adorava almoços em ótimos restaurantes, com maravilhosos buffets de saladas, por que adorava saladas, mas detestava prepará-las. Era bastante focada no crescimento de sua família, acompanhando de perto o desenvolvimento de cada membro da equipe. Apoiava o marido em sua bela carreira, e incentivava os filhos a desenvolverem suas habilidades, apontando suas melhores características e o caminho para uma melhor colocação. Poderíamos perceber nela uma eficiente gestora, sim ela era capaz de perceber possibilidades e formas de recolocação de cada um. O filho de 12 anos era alto, esguio, longilíneo, um tanto desengonçado para a dança, mas seus longos braços e sua agilidade ajudavam-no no esporte. Era ótimo no basquete e na natação. Ela o incentivava desde o início, quando ele ainda desejava apenas ser um capoeirista. - “Sim, você pode fazer capoeira, é ótimo, mas que tal se, além disso, o matricularmos na natação? A natação é um ótimo exercício, vai ajudá-lo no alongamento”. Pronto, bastaram seis meses e 3 medalhas para Gabriel perceber que tinha mais talento para a natação do que para a Capoeira, que mantém como um hobbie, dedicando-se muito mais às piscinas atualmente. Ela era certeira! Isabel, sua linda filha de 10 anos, também era um exemplo disso. Quando a menina ainda tinha 3 anos percebeu seu talento com papel e tinta. Como era delicada sua Bel! E tinha um talento inato para a escolha das tintas, manejou o pincel com destreza desde a primeira vez. Hoje já pinta pequenos quadrinhos que são cuidadosamente emoldurados e pendurados pelas paredes da bela casa. Não é uma casa grande e luxuosa, mas é acolhedora, aconchegante e bagunçada! Sim, Alice não sabe como fazer para sentir-se estimulada pelas funções domésticas. É excelente profissional, conceituada, disputada pelo mercado. Já acumulara grandes conquistas pessoais, tinha uma carreira de sucesso. Mas faltava alguma coisa. Ela não correspondia à figura feminina dos comerciais de margarina. Como sentir-se feliz e realizada com vassoura, balde, pano de chão? Tinha que fazer alguma coisa!
Como excelente headhunter que era, agendou reunião com a gerência da equipe familiar, indicando a necessidade de preenchimento da vaga, apresentou gráficos e planilhas previamente preparados para a ocasião exibindo cálculos detalhados dos riscos, custos e benefícios envolvidos no projeto. Tudo foi tão bem elaborado que obteve imediata aprovação, com cumprimentos por sua capacidade de articulação. Colocou mãos à obra no recrutamento e seleção de pessoal habilitado para a função, utilizando sua ativa rede de relacionamentos, ligou para um, dois, três contatos. Agendou entrevistas com candidatas bastante recomendadas. Foi persuasiva, intuitiva, desafiadora, uma boa negociadora. Utilizando testes de conhecimentos e simulações práticas, escolheu a pessoa mais habilitada para aquela vaga. Definidos direitos e deveres, começo agendado para a próxima segunda-feira.
Tomou um banho demorado sem preocupar-se com o fato do blindex não brilhar como um espelho, vestiu-se, maquiou-se e saiu para o trabalho.
Podia dedicar-se às funções que exercia com maestria, afinal, a partir de segunda poderia contar com a inestimável ajuda de uma secretária do lar.

Metamorfose ambulante? Nem tão ambulante assim...


Certos sentimentos são difíceis de explicar, nem sei mesmo ao certo se merecem explicação. Mas doem fundo. Quanto mais fundo eles doem, mais difícil expressa-los, e mais necessário se faz tentar. Algumas questões me empurram para aprofundar meus sentidos, quanto mais fundo mergulho, mais dói. Então entro numa fase de fuga, em que me torno mais superficial e menos intensa. Essas fases duram algum tempo e sempre encerram-se com um momento de crise que exige de mim reflexão.
Sempre percebi que pessoas menos reflexivas parecem mais felizes. Curtem samba, futebol, novela e conversa fiada e são muito alegres. Vivem rodeadas de amigos, sabem andar em bando, em grupos, são seres gregários. Não questionam nada, aceitam as coisas como estas se lhes apresentam. São boas para executar funções. É divertido conviver com elas, não são provocadoras nem instigantes, são apenas felizes sem tentar desvendar a felicidade.
Tento ser assim, diversas vezes tentei. Nunca dura muito tempo. A reflexão sempre me invade, domina todos os espaços, condena minha superficialidade, deixa claro que não tenho uma personalidade muito popular, de fácil acesso. Sou tímida, intensa, por vezes taciturna. Sou distante, questionadora até do que não se ousa questionar, sou pedra no sapato, sou cutucão na testa, julgo a todos e começo por mim.
Questiono meus amores, minhas dores, meus fracassos e também os sucessos. Questiono por questionar, como vício incontrolável. Vício que gera culpa após saciedade, ressaca do questionamento. Seria possível viver assim? Pode-se ser feliz assim? Eu sou feliz, em determinadas fases sou feliz. Sou feliz permeando tristezas, questões. Sou feliz em conjunto. Sou feliz quando ajudo alguém. Sou imensamente feliz quando o Bê está comigo, mesmo quando eu não estou com ele. Sim, isso é possível. Quantas vezes basta-me sabe-lo presente. Ouvir sua gargalhada à distância, enquanto brinca com o Vi no cômodo anexo. Basta-me pensa-lo, basta-me sabe-lo.
Por muito tempo imaginei que de tanto questionar entenderia, e que quando entendesse saberia como ser feliz. Saberia as regras do viver. Mas nada disso me aconteceu. Quanto mais questões, mais questões. Quanto mais anseios, mais dúvidas. E as fases de melancolia me acompanham, como uma amiga indesejada e sempre aguardada. São momentos em que me conheço mais. E quanto mais me conheço mais conheço as pessoas e melhor entendo como nada é tão óbvio, tão igual nem tão diferente. Rótulos não se encaixam em pessoas, mas fica fácil decifrá-las. Mais fácil do que eu gostaria. É duro entender motivações íntimas que nem os próprios percebem. Confrontá-las já foi uma prática corrente, entendi que não faz bem, de modo geral as pessoas não estão dispostas a ouvir, a pensar, a refletir. Certos espelhos não devem ser dispostos no living, se suas imagens refletem a alma. Como um retrato de Dorian Gray ninguém quer ver suas falhas reveladas em obra de arte. Isso não é arte como se pensa quando se pensa na palavra arte.
Quem sorri quando está sozinho? Quem sorri para si mesmo sem estímulo externo?
Minha resposta à pergunta: Sou feliz? É sim. Sou feliz. E tenho muitos porquês para isso. Sou feliz por que tenho família, por que tenho um amor. Por que tenho um filho lindo, saudável, inteligente, carinhoso. Sou feliz por que tenho saúde, inteligência, um trabalho que gosto, e por que gosto de com quem trabalho, sou feliz por que tenho sonhos, tenho planos futuros. Sou feliz por ter fé em Deus, por ser sua amiga íntima, por sabe-Lo presente em minha vida, mesmo questionando formas e estigmas.
Mas também sou triste (não infeliz) e aí não sei dizer bem por que. Sou triste por que choro sempre que estou sozinha, por que me sinto sozinha, por que não sei dividir meus sentimentos, por que gostaria de ser muito diferente de quem sou. Sou triste por que enxergo lugares e sentidos que não sei se gosto de enxergar sempre, mas consigo ainda assim ser feliz por este motivo. Queria questionar menos e seguir mais em frente. Ser mais ativa, menos pensamento. Ser mais concreta, menos sutil, menos etérea. Há momentos que me questiono se estou realmente aqui, e esta reflexão me leva a questionar o que é realmente e o que é aqui. E este processo nunca se encerra e perguntas não podem ser respondidas. Não com respostas, apenas com mais perguntas. Se soubessem o desgaste que isso gera... se soubessem o quanto é difícil ser questionadora. E neste momento eu entro na fase fútil e superficial, que tenta sufocar esta angústia que habita em mim, que tenta tornar-me diferente do que sou, do que tento saber ser. E vou seguindo, mais confusão que ideias, mais ideias que palavras, mais pensamentos que ações, mais ar que terra.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nós descendemos de um herói


Esta é uma pequena homenagem que faço ao meu avô, que se despediu de nós no último domingo, dia 04 de outubro. Estou racionalizando bastante, e tentando compensar a tristeza com otimismo, com gratidão. Sim, gratidão mesmo. Por que quantas pessoas nós conhecemos que viveram todo o seu ciclo? Que tiveram a oportunidade de viver 90 anos, 62 de casados, comemorar com a família os 90 numa festa linda, conhecer 5 bisnetos, passar seu recado e deixar uma família inteira com saudades, orgulhosos por tê-lo em nossa árvore genealógica? Quantos você conhece? Eu só conheci ele!
Então, segue a homenagem, como a emoção me permitiu expressar.


Coisa freqüente e-mails e mensagens que nos dizem para nunca deixar de dizer a quem amamos que os amamos. Que são importantes para nós. Imaginava que levava essa lição à risca, por que acredito que é verdadeiramente tocante. Não guardo a melhor louça ou roupa para raras ocasiões especiais, digo a quem amo, que amo, como comidas gostosas quando sinto vontade, abraço e beijo e encho de carinho aqueles que me são caros. Mas opa, cometi um pequeno deslize nisso tudo e torço para poder reparar meu erro.
Ontem (28/09), aos 90 anos, meu avô infartou. Está internado, lúcido, mas com uma grave lesão. E no momento em que recebi a mensagem de minha mãe, do outro lado do celular, entendi isso. Entendi a importância do Vô Manel em minha vida, aliás, na vida da minha família.
Meu avô é um pernambucano arretado, forte, decidido, durão, e o elo mais forte entre nós.Você pode se questionar e dizer que o maior elo entre membros de uma família é o amor, e é isso mesmo. Meu avô é o amor em nossa família.
De uma família pobre, com muitos irmãos, no sertão de Pernambuco, veio meu avô para o Rio de Janeiro. Semi analfabeto, lutador, determinado, dotado de valores fortes e até bastante inflexíveis. Tenho muito orgulho de te-los herdado!
Apesar de ser o avô mais próximo geograficamente (morávamos todos no Rio de Janeiro, enquanto meus avós maternos moravam no interior de São Paulo e morreram quando eu ainda era criança) nossa aproximação com eles não era forte. São muitos netos, eu nunca estive entre os favoritos, entretanto agora entendo o quanto ele esteve presente dentro de mim a vida inteira. Eu sou muito parecida com ele. São deles os valores em que acredito e pelos quais me sinto valorizada. A concepção que temos de família, recebemos dele. Somos felizes e unidos. Ele é nosso elo de ligação.
Sim, estamos todos nervosos e apreensivos. Meu avô é estrutura de base, ele é exemplo a seguir. Ele é alguém que quero que saiba de minhas vitórias, de minhas conquistas. Adoro ouvir suas histórias, suas lições, seus conselhos. Falar com ele sempre me deixa feliz, mesmo quando é um pequeno bate papo por telefone. E por que quase não ligava para ele? Por que só agora isso tudo faz sentido em minha mente. Por que enquanto minha mãe, do outro lado do meu celular, me dizia o que estava acontecendo, eu tremia e sofria. E pensava nele, e pedia, mesmo sem pedir, que Deus o protegesse, cuidasse dele. O trouxesse de volta para nós.
Sim, sofro o risco de perder meu avô, a presença física de meu avô. Nunca verdadeiramente o perderei, por que ele está na minha obsessiva mania de honestidade, de verdade, de ser correta. No meu jeito duro e estúpido de ser franca, sincera. Ele está na forma como educo meu filho, com rigor, com disciplina e limites. Ele está na maneira em que lido com meu marido, buscando a harmonia familiar. Ele está no convívio com meus pais, meus tios, minhas primas...
Quando ele nos contava suas histórias, ficava difícil saber o que era realidade e o que era fantasia. Sua vida não foi fácil, teve uma infância dura, diz que matava rolinhas para levar comida para casa. Diz que veio por que era matador em Pernambuco, mas isso eu acho que era lenda, meu avô é um homem de princípios rígidos, um homem trabalhador e pacifico. Foi motorista de táxi, feirante, dono de posto de gasolina e acabou montando uma empresa de radiadores, a Radiador Mauá, cenário de muitas traquinagens da minha infância.
Eu só quero que ele fique bem, e então neste momento, irei correndo até ele dizer o que não sabia que tinha para ser dito até ontem. Que ele é um herói para mim, que o admiro e respeito. Que ele me inspira e me dá norte. Que o amo!